Sobrinho de Dilma Propõe Reduzir Assaltos com Folga a Guardas em BH
- Editorial O Bahia Post
- 4 de mar.
- 4 min de leitura
Projeto polêmico de Pedro Rousseff gera debate sobre segurança pública.

Belo Horizonte, 4 de março de 2025 – O vereador Pedro Rousseff (PT-MG), sobrinho da ex-presidente Dilma Rousseff, protocolou um projeto de lei na Câmara Municipal de Belo Horizonte que promete reduzir o número de assaltos na cidade por meio de uma medida inusitada: conceder um dia de folga a guardas municipais que recuperarem e devolverem celulares roubados às vítimas.
A proposta, anunciada no domingo, 2 de março, durante o Carnaval 2025, foi apresentada como uma forma de incentivar o trabalho da Guarda Municipal e aumentar a segurança na capital mineira, mas críticos argumentam que ela pode, na prática, diminuir a presença de policiais nas ruas, gerando controvérsia em um município já marcado por altos índices de criminalidade.
O projeto foi divulgado por Pedro Rousseff em suas redes sociais, onde ele afirmou: “Isso é muito bom, porque incentiva a nossa guarda a trabalhar muito, ao mesmo tempo que deixa nossa cidade mais segura. Venha para Belo Horizonte, para o Carnaval mais seguro do Brasil.” A iniciativa, segundo o vereador, busca responder ao elevado número de roubos de celulares, um problema recorrente em Belo Horizonte, que registrou uma média de 12 mil casos apenas em 2023, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais. A ideia é que os guardas sejam motivados a agir de forma proativa na recuperação de bens roubados, devolvendo-os diretamente às vítimas como parte de um esforço para melhorar a percepção de segurança.
A proposta, no entanto, não detalha como será implementada ou quantos guardas poderão tirar folga por vez, levantando preocupações sobre o impacto na presença policial nas ruas. Belo Horizonte conta com cerca de 2.100 agentes na Guarda Municipal, segundo informações da prefeitura, mas apenas uma fração atua em rondas ostensivas, com muitos desempenhando funções administrativas ou de proteção a prédios públicos. Se um número significativo de guardas passar a se ausentar após recuperar celulares, críticos temem uma redução na capacidade de patrulhamento, especialmente em áreas de alta criminalidade como o hipercentro e os arredores da Praça Sete, alvos frequentes de assaltantes.
A reação à proposta foi imediata e polarizada. Nas redes sociais, onde o projeto ganhou tração, usuários criticaram a lógica por trás da medida. “Tirar guardas das ruas pra dar folga vai diminuir assalto como? Só na cabeça dele”, escreveu um internauta no X, enquanto outro ironizou: “Sobrinho de Dilma quer segurança com menos polícia. Parece piada.” Por outro lado, apoiadores do vereador, incluindo militantes do PT, defenderam a ideia como uma forma criativa de valorizar os agentes e engajá-los na luta contra o crime. “É um incentivo positivo, diferente de só punir ou cobrar mais trabalho”, disse um simpatizante em um comentário online.
Especialistas em segurança pública, no entanto, questionam a eficácia do projeto. Carlos Almeida, criminólogo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontou que a proposta carece de embasamento técnico. “Não há evidências de que recompensas como folgas reduzam crimes específicos como roubos de celulares. Pelo contrário, pode desorganizar o efetivo e fragilizar a presença ostensiva, que é o maior fator de dissuasão”, afirmou em entrevista ao jornal Estado de Minas. Ele também destacou que Belo Horizonte já enfrenta desafios estruturais, como a falta de integração entre a Guarda Municipal e a Polícia Militar, que tem efetivo maior e atribuições mais amplas no combate ao crime.
A capital mineira vive um cenário de insegurança persistente. Dados da Secretaria de Segurança Pública mostram que, em 2024, os roubos cresceram 15% em relação a 2023, com cerca de 14 mil ocorrências registradas até outubro, muitas delas envolvendo celulares. O Carnaval, costuma ser um período de pico para esses crimes, com foliões frequentemente alvos de ladrões em áreas como a Savassi e o entorno da Praça da Estação. A promessa de Pedro Rousseff de tornar BH “o Carnaval mais seguro do Brasil” contrasta com relatos de turistas e moradores, que apontam a dificuldade de encontrar guardas ou PMs em pontos turísticos durante a festa.
A prefeitura de Belo Horizonte, sob gestão de Fuad Noman (PSD), ainda não se posicionou oficialmente sobre o projeto, que precisa passar por comissões e ser votado no plenário da Câmara antes de entrar em vigor. A Guarda Municipal, por meio de nota, informou que “segue as diretrizes operacionais definidas pela Secretaria de Segurança Urbana” e que qualquer mudança em sua rotina dependerá de aprovação legislativa e regulamentação. Já a oposição na Câmara, liderada por vereadores do Novo e do PL, anunciou que vai questionar o projeto, pedindo estudos de impacto e audiências públicas para avaliar suas consequências.
O sobrenome Rousseff, associado à ex-presidente Dilma, adiciona uma camada política ao debate. Pedro, que é sobrinho da petista tendo sido eleito em 2024 com uma plataforma focada em inclusão social e segurança, enfrenta acusações de oportunismo. “Ele quer chamar atenção com ideias mirabolantes, mas não explica como isso funciona na prática”, criticou Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal e aliado de Jair Bolsonaro, em uma postagem no X. Enquanto isso, o PT municipal defendeu o vereador, destacando que “inovações na segurança pública são bem-vindas em um país que precisa de soluções criativas”.
Com o Carnaval 2025 encerrando-se, a proposta de Pedro Rousseff já marca o início de uma discussão que deve se estender pelos próximos meses em Belo Horizonte. Se aprovada, a medida pode redefinir o papel da Guarda Municipal, mas também reacender o eterno dilema entre incentivos ao trabalho policial e a necessidade de presença constante nas ruas para conter uma criminalidade que não dá trégua.