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Reduto do PT: Gasolina no Nordeste é a Mais Cara do Brasil em 2025

Preços elevados geram impacto econômico e revolta entre consumidores da região


Posto da Petrobras | Divulgação
Posto da Petrobras | Divulgação

A gasolina no Nordeste do Brasil alcançou, em fevereiro de 2025, o posto de mais cara do país, segundo dados atualizados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A média regional do litro do combustível atingiu R$ 6,63 na semana de 16 a 22 de fevereiro, superando outras regiões e a média nacional, que ficou em R$ 6,20 no mesmo período. Esse cenário tem gerado indignação entre consumidores e colocado em xeque os fatores que impulsionam os preços na região, como logística, a alta tributação e políticas de mercado da Petrobras.


O preço médio da gasolina no Nordeste em fevereiro de 2025 variou entre R$ 5,89 e R$ 6,89, com destaque para o Rio Grande do Norte, onde o litro chegou a R$ 6,63, o mais alto da região, conforme levantamento da ANP publicado em 3 de fevereiro de 2025. Em Fortaleza (CE), os valores oscilaram entre R$ 6,30 e R$ 6,50, enquanto em Recife (PE) ficaram entre R$ 6,20 e R$ 6,40, refletindo diferenças locais em tributação e custos de distribuição. Esses números contrastam com estados como Maranhão, na mesma região, onde o preço médio foi de R$ 5,54 em abril de 2024, mas subiu para R$ 6,10 até fevereiro de 2025, evidenciando uma tendência de alta generalizada.


A disparidade entre o Nordeste e outras regiões é clara. No Sudeste, por exemplo, a média foi de R$ 5,98 na semana de 16 a 22 de fevereiro de 2025, enquanto no Sul ficou em R$ 5,85, segundo os dados mais recentes da ANP. O Norte, embora também registre preços elevados (média de R$ 6,38), não superou o pico nordestino neste período. O Acre, tradicional líder em preços altos, manteve a média de R$ 6,98 no primeiro semestre de 2024, mas caiu para R$ 6,75 em fevereiro de 2025, cedendo o topo ao Rio Grande do Norte.


Por que o Nordeste enfrenta essa situação? Especialistas apontam uma combinação de fatores estruturais e conjunturais. O custo logístico é um dos principais vilões: a distância das refinarias da Petrobras, concentradas majoritariamente no Sudeste e Sul, eleva os gastos com transporte até os postos nordestinos. “A infraestrutura de distribuição no Brasil é desigual. O Nordeste depende de longas rotas terrestres e marítimas, encarecendo o combustível”, explica André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica. Em 2024, o custo médio de transporte da gasolina no Nordeste foi estimado em R$ 0,45 por litro, contra R$ 0,25 no Sudeste, conforme relatório da Petrobras.


Outro fator determinante é a carga tributária. Desde 1º de fevereiro de 2024, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) subiu de R$ 1,22 para R$ 1,37 por litro em todo o país, mas os estados nordestinos, com economias mais frágeis, mantêm alíquotas elevadas para compensar receitas menores. No Rio Grande do Norte, por exemplo, o ICMS sobre a gasolina é de 29%, um dos mais altos do Brasil, contra 18% em São Paulo. Esse diferencial adiciona cerca de R$ 0,40 ao preço final do litro na região, segundo cálculos baseados em dados da Secretaria da Fazenda do RN.


A política de preços da Petrobras também contribui para o cenário. Em 11 de setembro de 2024, a estatal informou, via Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), que os preços domésticos da gasolina estavam 7% acima da paridade de importação (PPI), devido à estabilidade do câmbio e à queda nos preços internacionais do petróleo. O barril Brent, referência global, caiu de US$ 77,04 em dezembro de 2023 para US$ 70,61 em setembro de 2024, mas voltou a subir para US$ 75,20 em fevereiro de 2025, pressionando os custos internos. Apesar disso, a Petrobras não anunciou redução significativa nos preços às distribuidoras desde o último reajuste, em 16 de outubro de 2024, quando o litro subiu R$ 0,41.


A composição do preço da gasolina revela o peso de cada componente. Segundo a plataforma de transparência da Petrobras, atualizada em 22 de fevereiro de 2025, o litro é dividido em: R$ 2,10 (parcela da Petrobras), R$ 1,37 (ICMS), R$ 0,69 (impostos federais PIS/Cofins), R$ 0,71 (etanol anidro) e R$ 1,06 (distribuição e revenda). No Nordeste, os custos de distribuição e revenda chegam a R$ 1,20 em média, 13% acima da média nacional, devido à logística e à menor concorrência entre distribuidores.


Os impactos econômicos são sentidos em larga escala. O Nordeste, que abriga 27% da população brasileira (cerca de 57 milhões de pessoas, segundo o IBGE), depende fortemente do transporte rodoviário para bens essenciais. O aumento da gasolina eleva os custos de frete, refletidos nos preços de alimentos e serviços. Em Recife, por exemplo, o preço médio do feijão subiu 8% entre janeiro e fevereiro de 2025, enquanto em Natal o arroz teve alta de 6%, conforme dados do Dieese. “O combustível caro no Nordeste é um multiplicador de inflação local, afetando sobretudo as camadas mais pobres”, alerta Maria Silva, economista da Universidade Federal de Pernambuco.


A indignação dos consumidores é visível nas ruas e nas redes sociais. Em Fortaleza, motoristas de aplicativo organizaram protestos em 18 de fevereiro de 2025, bloqueando vias e exigindo medidas do governo. “A gasolina a R$ 6,50 é um absurdo. Trabalho 12 horas por dia e mal sobra pra alimentação”, desabafou José Lima, motorista em São Luís (MA). Posts no X entre 3 e 22 de fevereiro de 2025 mostram revolta generalizada, com usuários culpando tanto a Petrobras quanto o governo federal pela falta de ação para conter os preços.


O governo Lula, que assumiu em 2023 prometendo estabilizar os combustíveis, enfrenta críticas crescentes. A reoneração dos impostos federais em março de 2023, que adicionou R$ 0,34 ao litro da gasolina, foi parcialmente compensada por quedas no petróleo internacional ao longo de 2023 e 2024. No entanto, a alta do Brent em 2025 e a valorização do dólar (R$ 5,45 em fevereiro de 2025) anularam esses ganhos. Em resposta, o Ministério de Minas e Energia anunciou em 20 de fevereiro um plano para ampliar o uso de etanol na região, mas a medida, ainda em estudo, não tem prazo definido.


A comparação com o passado recente é inevitável. Em maio de 2020, sob o governo Bolsonaro, a gasolina atingiu R$ 3,82 (R$ 4,52 corrigidos pelo IPCA), o menor valor em duas décadas, impulsionado pela pandemia e pela baixa demanda global. Em contraste, o pico de R$ 7,07 (corrigido) em novembro de 2021 reflete a volatilidade do mercado. Em 2025, os preços no Nordeste superam até esse recorde em termos reais, ajustados pela inflação acumulada de 4,5% em 2024, segundo o IBGE.


O que pode ser feito? Especialistas sugerem soluções como a redução do ICMS estadual, um pleito antigo do setor produtivo, mas que esbarra na resistência dos governadores nordestinos, dependentes dessa arrecadação. Outra proposta é aumentar a capacidade de refino regional. A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, opera abaixo de sua capacidade total (230 mil barris/dia) devido a atrasos em investimentos, processando apenas 100 mil barris/dia em 2024, segundo a Petrobras. “Se o Nordeste tivesse mais autonomia no refino, os custos logísticos cairiam significativamente”, avalia Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura.


Enquanto isso, o etanol surge como alternativa parcial. No Rio Grande do Norte, o preço médio do etanol foi de R$ 5,16 na semana de 16 a 22 de fevereiro de 2025, cerca de 78% do valor da gasolina, tornando-o vantajoso para motores flex. Contudo, a oferta limitada e a baixa produção local impedem uma substituição em larga escala. “O Nordeste consome mais gasolina porque o etanol vem do Centro-Sul, encarecendo seu transporte”, explica Galhardo.


O futuro dos preços no Nordeste dependerá de variáveis como a cotação do petróleo, o câmbio e as políticas fiscais. O Brent, que subiu 6% desde setembro de 2024, reflete tensões no Oriente Médio e incertezas na demanda chinesa. Caso o dólar ou o petróleo disparem, os R$ 6,63 de hoje podem parecer baixos. Por outro lado, uma queda sustentada no mercado internacional ou um reajuste para baixo pela Petrobras poderiam aliviar a pressão, mas a estatal, em comunicado à CVM em 18 de setembro de 2024, descartou cortes imediatos, priorizando sua “eficiência operacional”.


A gasolina mais cara do Brasil no Nordeste reflete um problema estrutural que vai além de decisões conjunturais. A combinação de logística precária, alta tributação e dependência de refinarias distantes cria um ciclo de custos que penaliza a região. Para os nordestinos, o impacto é diário: do bolso vazio ao prato mais caro, o combustível virou símbolo de desigualdade econômica. Sem reformas profundas, o título de “gasolina mais cara” pode ser um fardo duradouro.

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