Ciclone Alfred Provoca Erosão Recorde e Caos na Gold Coast, Austrália
- Editorial O Bahia Post
- 7 de mar.
- 4 min de leitura
Surfers Paradise perde mais de 2 metros de praia enquanto ventos de 155 km/h e ondas de 12 metros atingem Queensland.
Gold Coast, 7 de março de 2025 – O Ciclone Tropical Alfred atingiu a costa sudeste de Queensland, na Austrália, trazendo destruição e medo à populosa região da Gold Coast, com destaque para a icônica Surfers Paradise Beach, a principal praia da cidade.
Relatos confirmam uma erosão superior a 2 metros na faixa de areia, resultado de ondas recordes de até 12 metros e ventos que alcançaram 155 km/h em alguns pontos. O governo estadual estabeleceu abrigos temporários para os afetados, enquanto a população enfrenta cortes de energia, planeja rotas de fuga e teme o aumento do nível da água, que pode isolar comunidades ao comprometer pontes essenciais.
A chegada do ciclone foi anunciada por sinais claros nos últimos dias, com o mar invadindo áreas costeiras e grandes ondas castigando a infraestrutura urbana.
Surfers Paradise, conhecida por sua extensa praia e skyline de arranha-céus, viu toneladas de areia serem arrastadas pelo mar, expondo estruturas e alterando drasticamente o cenário turístico. “A praia simplesmente sumiu em algumas partes. É assustador ver a força da natureza assim”, relatou um morador local em entrevista à imprensa australiana. A erosão, combinada com o impacto das ondas de 12 metros – as maiores já registradas na região em décadas –, danificou calçadões, propriedades à beira-mar e sistemas de drenagem.
O Ciclone Alfred, classificado como categoria 2 pela Bureau of Meteorology (BOM), trouxe ventos destrutivos que derrubaram árvores, destelharam casas e interromperam o fornecimento de energia para dezenas de milhares de residências na Gold Coast e arredores. Rajadas de 155 km/h foram registradas em pontos expostos, como ilhas costeiras e áreas elevadas, enquanto a combinação de ventos fortes e maré alta gerou uma tempestade costeira (storm surge) que agravou a situação. O governo de Queensland, liderado pelo premier David Crisafulli, respondeu rapidamente, mobilizando equipes de emergência e abrigos temporários em locais como o RNA Showgrounds, em Brisbane, e o Nambour Showground, na Sunshine Coast, para abrigar desalojados.
A memória do devastador ciclone de 1954, conhecido como o “Great Gold Coast Cyclone”, voltou à tona entre os moradores mais antigos. Naquele ano, um sistema sem nome atingiu a região com força equivalente a uma categoria 3, matando dezenas de pessoas e causando inundações históricas. “É como um déjà-vu, mas agora temos muito mais gente e construções na costa. O risco é maior”, afirmou um historiador local à ABC News. Diferente de 1954, quando a Gold Coast era uma cidade menor, o Alfred ameaça uma área densamente povoada, com cerca de 750 mil habitantes e uma economia dependente do turismo.
A população da Gold Coast já enfrenta transtornos significativos. Além dos cortes de energia, que afetam desde eletrodomésticos até serviços essenciais, as autoridades alertaram para o risco de inundações repentinas (flash flooding) e o aumento do nível da água em rios e canais. Rotas de fuga foram planejadas, com moradores orientados a buscar áreas altas, como o hinterland e montanhas próximas, caso a situação piore. “Se o nível da água subir muito, as pontes podem ser um problema. Elas são nossa ligação com o interior, e ninguém quer ficar preso aqui”, disse uma residente de Burleigh Heads às redes sociais. Por enquanto, as autoridades afirmam que a situação está sob controle, mas a vigilância é constante.
O governo de Queensland, em parceria com o Queensland Disaster Management, ativou planos de contingência. Abrigos temporários foram abertos em locais estratégicos, oferecendo refúgio para quem teve casas danificadas ou precisou evacuar zonas de risco. “Ainda há tempo para se preparar, mas é questão de horas, não dias”, declarou Crisafulli em coletiva de imprensa, pedindo que os moradores estoquem água, comida e protejam suas propriedades com sacos de areia. Escolas foram fechadas, e o transporte público na região foi suspenso, enquanto equipes da Energex trabalham para restaurar a energia em meio a condições adversas.
O medo de pontes bloqueadas reflete a geografia única da Gold Coast, com seus 400 km de canais e rios interligados. Em 1954, o Nerang River transbordou, isolando comunidades e dificultando resgates. Hoje, o Logan e o Albert River estão sob alerta de cheia, e as autoridades monitoram de perto as condições das pontes que conectam a costa ao interior. “Se as pontes caírem ou ficarem inundadas, nossa saída é pelas montanhas. Estamos prontos para isso”, informou um porta-voz da prefeitura local. A população foi instruída a evitar áreas baixas e a não tentar cruzar trechos alagados, sob o lema “if it’s flooded, forget it” (se está inundado, esqueça).
Nas redes sociais, a indignação e o temor dominam as conversas. Usuários relatam supermercados esvaziados, com filas para comprar itens básicos como pão e água, e compartilham imagens de ondas gigantes quebrando contra os arranha-céus de Surfers Paradise. “Parece filme de fim de mundo. O mar tá engolindo tudo”, escreveu um internauta. Outro destacou a preparação: “Já peguei minha rota pras montanhas se precisar. Aqui não dá pra arriscar.” A solidariedade também aparece, com vizinhos oferecendo ajuda para erguer barreiras de sacos de areia e compartilhar suprimentos.
O Ciclone Alfred, que se formou no Pacífico Sul e tomou um rumo raro ao sul, é comparado a eventos históricos não só pela força, mas pela exposição da Gold Coast a riscos modernos. Desde 1954, a urbanização transformou pântanos em bairros residenciais e canais, aumentando a vulnerabilidade a tempestades costeiras. Especialistas alertam que as mudanças climáticas, com oceanos mais quentes, podem tornar esses eventos mais frequentes e intensos, desafiando uma região que, até então, raramente enfrentava ciclones diretos. Enquanto o Alfred avança, a Gold Coast se prepara para dias de incerteza, com a esperança de que os danos sejam contidos.
