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Senado vai Gastar R$ 1,4 milhão com Café 100% Arábico em 2025

Compra de grãos premium gera críticas em meio a crise fiscal e alta de preços.


Davi Alcolumbre, Rui Costa e Hugo Motta | Reprodução
Davi Alcolumbre, Rui Costa e Hugo Motta | Reprodução

Brasília, 6 de março de 2025 – O Senado Federal planeja gastar R$ 1,4 milhão na aquisição de café 100% arábico para abastecer suas dependências ao longo de 2025, conforme anunciado em edital de licitação publicado no Diário Oficial da União nesta semana. A compra, que inclui grãos moídos e torrados de alta qualidade, foi detalhada em um pregão eletrônico lançado pela Secretaria de Gestão Administrativa do Senado, prevendo o fornecimento de até 48 toneladas do produto ao longo do ano. A medida, justificada como parte das despesas operacionais da Casa, provocou reações de indignação em um momento de contenção fiscal e aumento do custo do café no mercado interno.


O edital especifica que o café deve ser 100% da espécie Coffea arabica, conhecida por seu sabor mais suave e sofisticado, em comparação com a variedade robusta, mais comum e barata. O valor estimado de R$ 1,4 milhão corresponde a cerca de R$ 29,17 por quilo, um preço significativamente superior ao praticado em supermercados brasileiros, onde o café arábico moído de marcas populares custa, em média, R$ 20 a R$ 25 por quilo, segundo dados do IBGE ajustados para março de 2025. A quantidade prevista – 48 mil quilos – equivale a aproximadamente 600 mil xícaras de café, considerando uma média de 80 gramas por litro, suficiente para atender os cerca de 3 mil servidores e 81 senadores durante os 12 meses do ano.


A justificativa oficial do Senado é que o café é essencial para o funcionamento das atividades legislativas, servido em reuniões, gabinetes e áreas administrativas. O contrato prevê entregas mensais de 4 toneladas, com exigências de qualidade como grãos “tipo 6 ou superior” (classificação que indica baixa presença de defeitos) e embalagens a vácuo de 500 gramas. A licitação, aberta no dia 3 de março, está marcada para ser concluída em 17 de março, com a escolha do fornecedor que oferecer o menor preço dentro das especificações. O edital não detalha se houve concorrência prévia ou comparação com opções mais econômicas, como cafés blends ou de origem menos premium.


A notícia chega em um contexto delicado. O preço do café arábico disparou no mercado interno e externo nos últimos meses, impulsionado por uma queda na safra brasileira devido a condições climáticas adversas. Em 2024, a produção nacional caiu 4,4% para 51,81 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), enquanto o preço médio ao consumidor subiu 39,6% em 12 meses, conforme o IBGE, tornando o produto um “luxo” para muitas famílias.


Em paralelo, o governo federal enfrenta uma dívida pública de R$ 6,8 trilhões e pressiona por cortes de gastos, o que torna o investimento do Senado em café premium um alvo fácil de críticas.


Reações nas redes sociais foram rápidas e ácidas. Usuários no X chamaram a despesa de “escárnio” e “desrespeito” com o contribuinte, com comentários como “Enquanto o povo corta o cafezinho pra pagar conta, o Senado gasta R$ 1,4 milhão com arábico chique” e “Café de rico com dinheiro público”. Parlamentares da oposição, como o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), também se manifestaram, prometendo questionar a Mesa Diretora sobre a necessidade da compra. “Em tempos de ajuste fiscal, isso é injustificável. Vou cobrar explicações”, declarou ele ao portal Metrópoles.


O Senado, por meio de sua assessoria, defendeu o gasto como “compatível com as necessidades institucionais” e destacou que o valor de R$ 1,4 milhão é uma estimativa máxima, podendo ser reduzido na licitação. A Casa também argumentou que o café é parte do custeio operacional, assim como água e energia, e que o pregão segue padrões de transparência e legalidade previstos na Lei nº 14.133/2021, que regula compras públicas. No entanto, a justificativa não menciona alternativas para reduzir custos, como a substituição por grãos menos caros ou a diminuição do volume adquirido.


O caso ecoa outras polêmicas recentes sobre gastos públicos. Em 2024, o Judiciário foi criticado pela Folha de S.Paulo por despesas de R$ 132,8 bilhões, consideradas anômalas diante da crise fiscal, enquanto o Congresso enfrentou questionamentos por benefícios como auxílio-moradia e cotas parlamentares.


O café 100% arábico do Senado, embora pequeno em comparação, reforça a percepção de desconexão entre as instituições e a realidade econômica do país, onde o salário mínimo de R$ 1.640 mal cobre a cesta básica, estimada em R$ 800 em capitais como Brasília.


Enquanto o pregão segue em andamento, o episódio coloca mais pressão sobre o Legislativo para justificar suas escolhas em um ano de desafios fiscais e eventos internacionais, como a COP30 em Belém. O café arábico do Senado, por ora, permanece como um símbolo amargo das prioridades questionáveis em tempos de austeridade.

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