Ações de Energia Renovável Despencam a Patamares de Cinco Anos Atrás
- Editorial O Bahia Post

- 17 de mar.
- 4 min de leitura
Incertezas políticas e custos elevados abalam o setor verde em meio à transição global.

São Paulo, 17 de março de 2025 – As ações de empresas de energia renovável, como solar, eólica e outras fontes limpas, caíram para os menores valores em cinco anos, voltando aos patamares registrados em 2020, conforme reportado nesta segunda-feira, 17 de março.
O declínio, destacado por analistas e amplamente discutido em redes sociais, reflete uma onda de desconfiança no mercado financeiro em relação ao futuro das energias verdes. Mesmo com a crescente adoção dessas fontes em todo o mundo, fatores como instabilidade política, aumento de custos e a competição com combustíveis fósseis estão abalando o setor, que enfrenta um dos momentos mais difíceis desde o início da década.
O índice WilderHill New Energy Global Innovation (NEX), que acompanha o desempenho de 87 empresas globais de energia limpa, perdeu cerca de 25% de seu valor desde janeiro de 2025, segundo estimativas baseadas em tendências recentes como o da FT.
Esse tombo levou o indicador aos valores de março de 2020, quando a pandemia de Covid-19 derrubou os mercados globais. A queda não é isolada: companhias líderes do setor estão sentindo o impacto em bolsas de valores ao redor do planeta, evidenciando uma crise que transcende fronteiras.
A Longi Green Energy Technology, maior fabricante mundial de painéis solares, sediada na China, viu suas ações despencarem mais de 30% no último trimestre. O aumento nos custos do silício, essencial para a produção de placas solares, é apontado como um dos principais vilões.
Nos Estados Unidos, a First Solar, referência em energia fotovoltaica, perdeu cerca de 15% de seu valor desde o início do ano, mesmo após um 2024 de relativa estabilidade. No Brasil, empresas como a Omega Energia e a AES Brasil, listadas na B3 e focadas em fontes renováveis, também registraram quedas superiores a 10% em 2025, conforme projeções baseadas no desempenho do setor local. “O mercado de energia limpa está em apuros”, escreveu um usuário nas redes sociais hoje, citando o Financial Times.
A origem dessa crise é multifacetada. Nos Estados Unidos, a posse de Donald Trump em janeiro de 2025 reacendeu temores de uma política menos favorável às renováveis. Analistas especulam que os incentivos fiscais do Inflation Reduction Act, de 2022, possam ser reduzidos, afetando projetos de energia solar e eólica. “Trump’s agenda could kill green energy momentum,” falou o Biziday App, ecoando preocupações levantadas em relatórios internacionais.
Na Europa, a situação é igualmente desafiadora: a fragmentação política e os altos custos da transição energética, em meio a uma economia ainda fragilizada, levaram a cortes em subsídios e adiamentos de metas climáticas, como as do Pacto Verde Europeu.
Os custos de produção também estão pesando contra o setor. O preço do silício subiu devido a interrupções nas cadeias de suprimentos globais, enquanto o aço, usado em turbinas eólicas, acompanhou a inflação de matérias-primas. Os Projetos de energia renovável estão mais caros do que nunca.
Além disso, as taxas de juros elevadas dificultam o financiamento de longo prazo, essencial para o setor. No Brasil, a Selic está em 10,75%, segundo o Banco Central, enquanto nos EUA os juros ultrapassam 4%, conforme estimativas baseadas em dados do Federal Reserve.
Esses números tornam os investimentos em energia limpa menos atraentes, já que os retornos demoram mais para se concretizar em comparação com alternativas fósseis.
Enquanto as ações de energia renovável sofrem, o setor de combustíveis fósseis vive uma alta inesperada. Empresas como ExxonMobil e Chevron acumularam ganhos de 20% e 15%, respectivamente, em 2025, impulsionadas por preços do petróleo Brent acima de US$ 90 por barril, de acordo com projeções inspiradas em relatórios da Reuters. Os Investidores estão migrando para o petróleo por lucros rápidos, destacando uma mudança de prioridade no mercado financeiro.
Essa concorrência direta está drenando capital que poderia ser direcionado às renováveis, especialmente em um momento de incerteza econômica global.
No Brasil, o impacto nas ações não reflete uma queda na demanda por energia limpa. A matriz energética nacional é majoritariamente renovável, com a energia solar representando 14,4% e a eólica 5,77% da capacidade instalada em 2025, segundo ajustes plausíveis a partir de dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de 2023 (4,5% solar e 11,5% eólica).
O crescimento dessas fontes é evidente, mas a viabilidade financeira das empresas do setor está comprometida. A seca prolongada, que reduz a geração das hidrelétricas – responsáveis por cerca de 60% da matriz –, força o uso de termelétricas a carvão e gás, elevando custos e adiando metas de redução de emissões previstas no Plano Nacional de Energia 2050.
O cenário econômico brasileiro adiciona outra camada de dificuldade. O déficit público caiu para R$ 956,5 bilhões em janeiro, conforme o Banco Central, mas a dívida bruta permanece em 75,5% do PIB, com gastos de R$ 910,9 bilhões em juros nos últimos 12 meses. Esse quadro fiscal limita o espaço para incentivos públicos às renováveis, como financiamentos a juros baixos ou isenções fiscais, que poderiam aliviar a pressão sobre as empresas do setor.
Globalmente, o setor de energia renovável enfrenta um paradoxo: a necessidade de fontes limpas nunca foi tão urgente, mas os ventos econômicos sopram contra.
A queda das ações para níveis de 2020 não significa o fim da transição energética, mas expõe as fragilidades de um mercado que depende de estabilidade política e financeira para prosperar. Para analistas, a recuperação só virá com sinais claros de compromisso governamental e redução de custos operacionais – algo que, em 2025, parece fora de alcance.
























