Creme da La Roche-Posay para Acne é Retirado do Mercado por Risco Cancerígeno
- Editorial O Bahia Post

- 17 de mar.
- 5 min de leitura
L’Oréal suspende Effaclar Duo nos EUA após detecção de benzeno em testes oficiais.

New York, 17 de março de 2025 – A La Roche-Posay, marca de cuidados com a pele da L’Oréal, anunciou a retirada voluntária de seu famoso creme Effaclar Duo Dual Action Acne Treatment do mercado americano em 10 de março de 2025, após a identificação de traços de benzeno, uma substância cancerígena, em algumas unidades do produto.
A decisão, amplamente noticiada por veículos como o Financial Times e a Reuters nesta segunda-feira, 17 de março, foi motivada por testes conduzidos pela empresa e confirmados pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA. O recall reacende preocupações sobre a segurança de cosméticos que utilizam peróxido de benzoíla, ingrediente ativo do Effaclar Duo, e levanta questões sobre os padrões de qualidade na indústria dermatológica.
O Effaclar Duo, lançado em 2012 e um dos produtos mais recomendados por dermatologistas para o tratamento de acne moderada a severa, contém 5,5% de peróxido de benzoíla micronizado, conhecido por suas propriedades antibacterianas e capacidade de reduzir inflamações cutâneas. Segundo o site oficial da La Roche-Posay, o creme promete “resultados visíveis em até três dias,” o que o tornou um favorito global, com vendas estimadas em milhões de unidades anualmente.
No entanto, o mesmo ingrediente que garante sua eficácia pode se degradar em benzeno – um composto químico classificado como carcinógeno humano pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC) – sob condições como altas temperaturas ou exposição prolongada à luz solar, conforme alertas anteriores de laboratórios independentes.
A L’Oréal informou, em comunicado ao Bloomberg em 11 de março, que o recall abrange todos os lotes do Effaclar Duo disponíveis nos EUA, como medida preventiva após a detecção de níveis mínimos de benzeno em um lote específico produzido em 2024. “Os traços encontrados não excedem os limites de segurança estabelecidos, mas optamos por agir em nome da confiança dos consumidores,” declarou um porta-voz da empresa.
A La Roche-Posay já removeu o produto de seu site americano e das prateleiras de varejistas como CVS e Walgreens, enquanto trabalha em uma nova fórmula, planejada para lançamento ainda em 2025, que substituirá o peróxido de benzoíla por ingredientes alternativos menos suscetíveis à degradação.
O caso tem origem em um relatório publicado em março de 2024 pelo laboratório independente Valisure, sediado em Connecticut, que analisou 66 produtos com peróxido de benzoíla e identificou níveis de benzeno acima do limite de 2 partes por milhão (ppm) permitido pela FDA em certas condições. Publicado no Journal of Investigative Dermatology, o estudo mostrou que, em temperaturas de 70°C, o Effaclar Duo gerava até 1.600 ppm de benzeno – 800 vezes o limite aceitável – levando o Valisure a solicitar recalls e uma revisão regulatória. Embora a FDA não tenha imposto a retirada na época, os testes da própria L’Oréal em 2025, aliados à pressão pública, culminaram na decisão voluntária.
A FDA corroborou as preocupações em um comunicado oficial divulgado em 11 de março de 2025, após testar 95 produtos com peróxido de benzoíla. A agência confirmou que seis itens, incluindo o Effaclar Duo, apresentavam níveis detectáveis de benzeno, embora abaixo de 10 ppm na maioria dos casos.
“A exposição ao benzeno via aplicação tópica em cosméticos representa um risco muito baixo de câncer, mesmo com uso prolongado,” afirmou a FDA ao Health, enfatizando que mais de 90% dos produtos analisados estavam dentro dos limites de segurança. Ainda assim, o recall da L’Oréal foi classificado como “nível varejista,” indicando a retirada de estoques sem instruções diretas para consumidores devolverem unidades já adquiridas.
No Brasil, onde o Effaclar Duo é vendido em farmácias e plataformas online por cerca de R$ 120 (tubo de 40g), a L’Oréal ainda não confirmou se o recall será estendido.
A filial brasileira emitiu uma nota ao Estadão em 15 de março, afirmando que “está avaliando os lotes locais em colaboração com a Anvisa” e que, até o momento, não há evidências de contaminação nos produtos distribuídos no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não se pronunciou oficialmente, mas fontes do órgão indicaram ao G1 que estão monitorando o caso e podem solicitar testes adicionais, dependendo dos resultados da investigação da L’Oréal Brasil.
O benzeno, um hidrocarboneto aromático encontrado em combustíveis fósseis e emissões industriais, é reconhecido por seu potencial carcinogênico, especialmente em exposições prolongadas por inalação, que podem aumentar o risco de leucemia mieloide aguda, segundo a Sociedade Americana de Câncer.
Em cosméticos, porém, a aplicação tópica reduz significativamente esse risco, já que a absorção pela pele é mínima. “Os níveis de benzeno detectados não justificam pânico, mas a retirada é um sinal de cautela,” informou o Financial Times em uma análise publicada hoje, 17 de março, destacando a resposta proativa da L’Oréal em um mercado cada vez mais exigente por transparência.
Esse não é o primeiro incidente envolvendo benzeno em cosméticos. Em 2021, a Coppertone retirou protetores solares do mercado após testes da Valisure detectarem o composto, enquanto em 2022 a Unilever recolheu xampus secos da Dove e Suave pelo mesmo motivo, conforme reportado pela Reuters. Esses casos levaram a FDA a revisar suas diretrizes, embora ainda não exista uma regulamentação específica para testes obrigatórios de benzeno em produtos com peróxido de benzoíla.
“A indústria precisa de padrões mais rigorosos,” declarou David Light, CEO do Valisure, ao Fortune em 12 de março, defendendo uma reformulação nas práticas de fabricação.
Para a L’Oréal, o recall representa um desafio significativo para a reputação da La Roche-Posay, uma marca que construiu sua imagem associada à dermatologia e à segurança. Com faturamento global de € 41 bilhões em 2023, segundo o balanço anual da empresa, a L’Oréal agora foca em mitigar o impacto e acelerar o desenvolvimento de uma fórmula reformulada do Effaclar Duo.
“Estamos comprometidos em manter a confiança de nossos consumidores e profissionais de saúde,” reiterou o porta-voz ao Bloomberg, sinalizando que o novo produto estará disponível globalmente até o fim de 2025.
Dermatologistas brasileiros, que frequentemente indicam o Effaclar Duo para peles oleosas e acneicas, já buscam alternativas. “É um creme eficaz, mas podemos recorrer a opções com ácido salicílico ou adapaleno enquanto o caso se resolve,” disse a dermatologista Carla Vidal.
Consumidores, por sua vez, aguardam esclarecimentos. “A retirada nos EUA preocupa, mas espero que a Anvisa confirme a segurança aqui,” escreveu
Julian Cubero nas redes sociais em 16 de março, refletindo o sentimento de incerteza entre os usuários do produto.
O caso do Effaclar Duo sublinha os desafios da indústria cosmética em equilibrar inovação, eficácia e segurança. Embora o risco cancerígeno seja considerado baixo, a ação da L’Oréal demonstra uma resposta à crescente demanda por produtos livres de controvérsias – uma tendência que deve moldar o mercado em 2025 e além.
























