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Morro de São Paulo Enfrenta Crise com Acidentes e Insegurança

Lanchas colidem, incêndios persistem, assaltos constantes, animais venenosos e taxas elevadas geram críticas a ilha, que se torna um destino não recomendável.


Incêndio em Morro de São Paulo | Reprodução
Incêndio em Morro de São Paulo | Reprodução

Morro de São Paulo, 08/04/2025 – O distrito de Morro de São Paulo, na Ilha de Tinharé, município de Cairu, Bahia, vive um momento de turbulência que ameaça sua reputação como um dos principais destinos turísticos do Brasil.


Na manhã desta terça-feira, uma colisão entre duas lanchas rápidas nas proximidades da Terceira Praia deixou um morto e 14 feridos, reacendendo debates sobre a segurança náutica na região.


O acidente, que vitimou um empresário do setor hoteleiro local, soma-se a uma série de desafios enfrentados pela vila: incêndios frequentes, taxas consideradas abusivas por moradores e turistas, e uma percepção crescente de declínio e insegurança.


Autoridades e especialistas apontam para falhas estruturais e falta de fiscalização como agravantes dessa crise.


O choque entre as lanchas ocorreu por volta das 9h, durante um trajeto rotineiro que conecta o cais principal às praias da ilha. Segundo testemunhas, as embarcações, que transportavam turistas e moradores, colidiram em alta velocidade, resultando em danos graves a ambas.


Equipes de resgate, incluindo bombeiros e a Marinha do Brasil, foram mobilizadas rapidamente, mas a vítima fatal, identificada como um hoteleiro de 52 anos, não resistiu aos ferimentos.


Dos 14 feridos, cinco foram transferidos para o Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus, com quadros que variam de fraturas a traumatismos leves, conforme a Secretaria Municipal de Saúde de Cairu.


Vídeos que circulam as redes sociais mostram o resgate caótico, com banhistas auxiliando no socorro às vítimas em meio a destroços flutuantes.


Esse não é o primeiro incidente náutico a abalar Morro de São Paulo. Em 2023, uma lancha que fazia o trajeto entre Valença e a ilha sofreu uma pane mecânica, deixando 30 passageiros à deriva por duas horas até o resgate.


A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), responsável pela fiscalização do transporte marítimo, foi alvo de críticas por suposta negligência.


Posts no X desta manhã questionam a atuação do órgão sob o governo de Jerônimo Rodrigues, com usuários sugerindo que a tragédia poderia ter sido evitada com mais rigor na supervisão das embarcações.


A Agerba informou que uma investigação está em curso para apurar as causas do acidente, mas não detalhou medidas imediatas.


Além dos acidentes náuticos, Morro de São Paulo tem enfrentado incêndios recorrentes que expõem a fragilidade de sua infraestrutura. Em 2024, três episódios registrados no centrinho da vila destruíram estabelecimentos comerciais e pousadas, sem deixar vítimas, mas causando prejuízos estimados em R$ 1,5 milhão, segundo a Associação Comercial local.


A falta de um corpo de bombeiros permanente na ilha é apontada como um fator crítico: o atendimento depende de unidades de Valença ou Salvador, que levam horas para chegar via ferry ou helicóptero.


Em um dos casos, em setembro passado, um curto-circuito em uma rede elétrica sobrecarregada foi identificado como a causa, levantando preocupações sobre a manutenção das instalações em um destino que recebe cerca de 300 mil turistas anuais, conforme dados da Secretaria de Turismo da Bahia.


As taxas cobradas na ilha também alimentam o descontentamento. A Tarifa de Utilização do Patrimônio do Arquipélago (TUPA), fixada em R$ 25 por visitante desde 2023, é destinada à preservação ambiental e limpeza, mas moradores e turistas a consideram abusiva diante da precariedade dos serviços.


“Pago para entrar e não vejo onde o dinheiro é aplicado: o lixo se acumula nas praias e os acidentes continuam”, disse um usuário no X, ecoando um sentimento comum.


A Câmara de Vereadores de Cairu defende a taxa como essencial para a manutenção da ilha, mas um relatório do Tribunal de Contas do Estado, publicado em 2024, apontou desvios de 15% dos recursos arrecadados entre 2021 e 2023, sem esclarecer seu destino. A prefeitura prometeu auditorias, mas os resultados ainda não foram divulgados.


O declínio percebido em Morro de São Paulo vai além das questões materiais. Antes celebrado como um paraíso tropical com praias cristalinas e vida noturna vibrante, o destino enfrenta uma erosão de sua imagem.


O ranking do Centro Internacional de Formación en Gestión y Certificación de Playas, que em 2024 classificou Morro como a 16ª melhor praia do mundo, parece distante da realidade atual.


A Quarta Praia, conhecida por suas piscinas naturais, registrou uma queda de 20% na ocupação hoteleira no último verão, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), atribuída à combinação de insegurança e infraestrutura deficiente. Turistas relatam a presença de assaltos noturnos na Segunda Praia, área de bares e festas, algo raro até poucos anos atrás.


A insegurança, embora não respaldada por estatísticas oficiais recentes, ganhou força nas narrativas locais.


Em julho de 2024, a morte de um turista de 65 anos, possivelmente por picada de aranha-marrom durante um passeio de lancha, intensificou os temores sobre a segurança na ilha.


A Polícia Civil ainda investiga o caso, mas a ausência de um hospital equipado em Morro – o atendimento inicial é feito em uma Unidade Básica de Saúde – foi criticada como um reflexo do abandono do poder público.


O delegado responsável pelo distrito informou que o efetivo policial, de apenas 12 agentes para toda a Ilha de Tinharé, é insuficiente para cobrir os 40 quilômetros quadrados de área, especialmente na alta temporada.


A economia local, fortemente dependente do turismo, sente os impactos. Pequenos comerciantes relatam uma queda de 30% nas vendas desde 2023, conforme a Associação Comercial de Morro de São Paulo, enquanto grandes resorts, como os da Quinta Praia, mantêm ocupação estável graças a pacotes fechados.


A disparidade alimenta tensões entre moradores e investidores externos, que controlam 60% dos leitos hoteleiros, segundo estimativas da ABIH-BA. “A ilha está virando um lugar para ricos, enquanto quem vive aqui sofre com os problemas”, afirmou um comerciante local ao jornal A Tarde em março.


Autoridades tentam responder à crise. A Marinha abriu um inquérito para investigar o acidente de lancha, com prazo de 90 dias para conclusão, e a Secretaria de Turismo da Bahia anunciou um plano de R$ 10 milhões para melhorias em infraestrutura, incluindo a instalação de uma base de bombeiros até 2026.


A prefeitura de Cairu prometeu reforçar a segurança com câmeras e mais agentes policiais, mas os prazos são vagos. Enquanto isso, a Agerba enfrenta pressão para revisar licenças de transporte marítimo, com a possibilidade de suspender empresas envolvidas em incidentes recorrentes.


A história de Morro de São Paulo, fundada em 1535 como ponto estratégico na defesa da Baía de Todos os Santos, contrasta com seu presente conturbado.


Seus monumentos, como a Fortaleza e o Farol, tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional, ainda atraem visitantes, mas o encanto das praias e a hospitalidade baiana disputam espaço com relatos de negligência e desordem.


O futuro de Morro depende de ações concretas. Especialistas sugerem que a falta de planejamento para o crescimento turístico, aliado à dependência de embarcações para acesso e transporte interno, expõe a fragilidade do modelo atual.]


Um estudo da Universidade Federal da Bahia, publicado em 2024, recomendou a diversificação econômica com foco em sustentabilidade, mas a implementação esbarra em disputas políticas e recursos limitados.


Por ora, a vila que já foi sinônimo de tranquilidade enfrenta um teste de resiliência, enquanto turistas e moradores aguardam respostas para um destino em encruzilhada.

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