O Fim da Segurança Pública na Bahia, Até para os Ricos
- Editorial O Bahia Post
- 15 de mar.
- 5 min de leitura
Como um tiroteio em uma das vias mais movimentadas do estado, próximo ao Alphaville e Le Parc, mostrou que não existe mais zona segura, nem pagando milhões.

Salvador, 15 de março de 2025 – Um tiroteio na manhã da última sexta-feira, 14 de março, na Avenida Luís Viana Filho, conhecida como Paralela, em Salvador, reverberou além do som dos disparos e do caos momentâneo que interrompeu o tráfego em uma das vias mais movimentadas da Bahia.
O incidente, ocorrido próximo ao condomínio Alphaville e Le Parc, dois dos mais exclusivos refúgios residenciais da capital baiana, expôs uma verdade incômoda: a segurança pública no estado atingiu um ponto de ruptura, e nem mesmo os enclaves fortificados dos ricos estão imunes ao colapso que se avizinha.
O que antes era um problema confinado às periferias e favelas agora invade os redutos de quem paga milhões por apartamentos e casas em busca de proteção, revelando que o privilégio econômico não é mais um escudo contra a violência sistêmica no estado.
A Paralela, artéria vital que conecta o centro de Salvador ao litoral norte e ao Aeroporto Internacional, é um símbolo da modernidade urbana baiana. Alphaville e Le Parc, por sua vez, representam o ápice do sonho de segurança privada: condomínios de alto padrão, cercados por muros altos, guaritas armadas e sistemas de vigilância de última geração.
Os moradores dessas áreas desembolsam fortunas – valores que frequentemente ultrapassam R$ 2 milhões por residências, além de IPTUs elevados – para garantir um oásis de tranquilidade em meio ao crescente caos social. No entanto, o tiroteio de sexta-feira, ocorrido às 7h em pleno horário de pico, demonstra que essa promessa de segurança foi irremediavelmente quebrada.
Testemunhas relataram cenas de pânico, com motoristas voltando pela contramão e moradores dos condomínios próximos ouvindo os disparos de suas varandas, um lembrete de que a violência não respeita mais barreiras geográficas ou econômicas.
Esse episódio não é um evento isolado, mas o culminar de uma deterioração progressiva da segurança pública na Bahia. A violência, que por décadas foi associada às comunidades mais pobres e vulneráveis, como Plataforma e Nordeste de Amaralina, começou a se infiltrar nos últimos anos em áreas antes consideradas intocáveis.
Em Lauro de Freitas, município vizinho a Salvador, o Condomínio Busca Vida, um dos mais luxuosos da região, foi palco de invasões recentes, com relatos de assaltos que chocaram seus moradores. Enquanto Vilas do Atlântico, outrora um bairro nobre e pacato, hoje registra altos índices de criminalidade, perdendo seu status de refúgio seguro. Até mesmo a Praia do Forte, a mais de uma hora de Salvador e conhecida como um dos últimos bastiões de tranquilidade para a elite baiana, tem sido marcada por casos de assaltos, sinalizando que a onda de insegurança avança sem freios.
A invasão da violência em espaços tradicionalmente protegidos reflete um colapso que transcende a capacidade das estruturas atuais de suporte social e governamental. A Bahia, sob o governo atual, enfrenta uma escalada de crimes que não encontra resposta à altura.
O tiroteio na Paralela, por exemplo, ocorreu em uma área patrulhada pela Polícia Militar e próxima a bases de segurança privada, mas isso não impediu a ação criminosa – uma perseguição policial que terminou com um suspeito morto e duas pessoas feridas, segundo informações preliminares da Secretaria de Segurança Pública.
O incidente expõe a fragilidade das políticas públicas de segurança, que parecem incapazes de conter a expansão da criminalidade para além das periferias, alcançando agora os bairros de classe média alta e os condomínios de luxo.
Historicamente, a desigualdade social na Bahia criou uma geografia de segurança desigual: os pobres enfrentavam a violência como parte do cotidiano, enquanto os ricos podiam se isolar em seus enclaves fortificados.
Alphaville, Le Parc, Busca Vida e Praia do Forte eram mais do que endereços; eram símbolos de um pacto implícito entre a elite e o poder público, no qual altos investimentos em propriedades e impostos garantiam proteção. Esse pacto, no entanto, ruiu.
O aumento dos assaltos em áreas como Pituba, outro bairro tradicionalmente abastado de Salvador, e a chegada da violência a destinos turísticos de alto padrão indicam que o dinheiro não compra mais imunidade. A população rica, que pagava para se sentir segura, agora se vê tão vulnerável quanto o restante da sociedade, enfrentando o mesmo medo que antes era exclusivo das camadas mais pobres.
A raiz desse colapso está na combinação de fatores estruturais e conjunturais. A Bahia registra uma das maiores taxas de homicídios do Brasil, com 47,1 mortes por 100 mil habitantes em 2023, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, e os números preliminares de 2024 sugerem uma estabilização em patamares elevados.
O avanço de facções criminosas, como o Comando Vermelho e o Bonde do Maluco, intensificou os confrontos armados, enquanto a falta de políticas preventivas eficazes e o sucateamento das forças policiais agravam o cenário. O governo estadual, criticado por sua resposta lenta e fragmentada, parece incapaz de deter a deterioração, deixando tanto as periferias quanto as áreas nobres à mercê da violência. O tiroteio na Paralela é apenas o sintoma mais visível de uma crise que ameaça engolir todo o estado.
Para os moradores de Alphaville e Le Parc, o incidente de hoje é um divisor de águas. O som dos disparos ecoou não somente nas ruas, mas nas certezas de quem acreditava que a segurança poderia ser comprada. Em Vilas do Atlântico, agora descrito por alguns como um “bairro descartável”, os assaltos frequentes transformaram um antigo reduto da elite em um lugar de tensão constante.
Na Praia do Forte, a uma hora de Salvador, os casos de criminalidade desafiam a imagem de paraíso intocado que atraía turistas e investidores. O Condomínio Busca Vida, com suas mansões milionárias, já não oferece a tranquilidade prometida.
Esses eventos sinalizam que a Bahia caminha para um colapso de segurança pública iminente, onde não há mais zonas seguras, independentemente do poder aquisitivo.
A solução para essa crise exige medidas drásticas e imediatas. Sem uma reformulação profunda das políticas de segurança – incluindo investimentos em inteligência policial, aumento do efetivo nas ruas, parcerias com a segurança privada e, sobretudo, ações preventivas que ataquem as causas sociais da violência –, a Bahia corre o risco de se tornar um estado onde o caos reina absoluto.
O tiroteio na Paralela não foi apenas um evento isolado; foi um grito de alerta que ressoou nos muros dos condomínios de luxo e nas ruas das periferias, unindo ricos e pobres em uma realidade comum: a segurança pública, como a conhecíamos, acabou. Até para os ricos, a Bahia de 2025 é um lugar onde o medo não distingue classes sociais, e a proteção, mesmo custando milhões, tornou-se uma ilusão.