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Europa acelera IRIS e Galileo após reaproximação entre EUA e Rússia

Programas estratégicos ganham força em resposta a mudanças geopolíticas 


Pontos fictícios de satélites no mundo | Reprodução
Pontos fictícios de satélites no mundo | Reprodução

Bruxelas, 23 de fevereiro de 2025 – Diante de uma aparente reaproximação entre os Estados Unidos e a Rússia, a Europa intensifica seus esforços para garantir autonomia estratégica com o avanço de programas como o IRIS², uma constelação de satélites concebida como alternativa ao Starlink, de Elon Musk, e o Galileo, sistema de navegação que rivaliza com o GPS americano. A União Europeia (UE) anunciou nesta semana um reforço de fundos para ambos os projetos, vistos como pilares para a soberania tecnológica do continente.


A guinada dos EUA em direção à Rússia, evidenciada por sinais de distensionamento nas relações bilaterais desde o início de 2025, acendeu alerta na Europa. Líderes da UE temem que a dependência de tecnologias americanas, como o GPS e o Starlink, possa comprometer a segurança e a independência do bloco em um cenário de incertezas geopolíticas. Nesse contexto, o IRIS² e o Galileo emergem como respostas estratégicas para reduzir essa vulnerabilidade.


O IRIS², oficialmente lançado em dezembro de 2024 com um orçamento de € 10,6 bilhões, prevê a implantação de 290 satélites em órbitas baixa e média até 2030. Desenvolvido pela SpaceRISE – consórcio que reúne empresas como SES, Eutelsat e Airbus –, o programa busca oferecer conectividade segura e de alta velocidade para governos e cidadãos europeus. Já o Galileo, operacional desde 2016, receberá recursos adicionais para atualizações, visando manter sua competitividade frente ao GPS e ao sistema russo GLONASS.


O IRIS² é a terceira grande iniciativa espacial da UE, seguindo os passos do Galileo e do Copernicus, sistema de observação terrestre. Diferente do Starlink, que conta com mais de 7 mil satélites e foco comercial global, o IRIS² prioriza a Europa, com uma constelação mais enxuta, mas projetada para atender tanto às demandas governamentais – como vigilância de fronteiras e comunicações seguras – quanto ao uso civil, como banda larga em áreas remotas.


A decisão de acelerar o programa reflete preocupações com a influência de empresas privadas americanas no setor espacial. A SpaceX, dona do Starlink, já demonstrou capacidade de limitar serviços em contextos estratégicos, como na guerra da Ucrânia em 2022, reforçando a busca europeia por autonomia. “Não podemos depender de terceiros em áreas críticas”, declarou Timo Pesonen, diretor-geral de Defesa, Indústria e Espaço da Comissão Europeia, em recente entrevista.


O Galileo, que já fornece serviços de posicionamento global a mais de 3 bilhões de usuários, também está no centro da estratégia europeia. Com 28 satélites em órbita, o sistema é uma alternativa ao GPS, controlado pelo Departamento de Defesa dos EUA, e ao GLONASS russo. A UE planeja investir bilhões de euros nos próximos anos para modernizar a constelação, melhorar a precisão e expandir aplicações em setores como transporte, agricultura e segurança.


A atualização do Galileo é vista como essencial para acompanhar o ritmo de avanços tecnológicos e responder a potenciais restrições no acesso ao GPS, especialmente em um cenário de alinhamento entre Washington e Moscou. “O Galileo é um ativo estratégico que precisamos manter atualizado”, afirmou um porta-voz da Agência Espacial Europeia (ESA).


Pense em um agricultor no interior da Polônia usando o Galileo para otimizar suas colheitas ou um vilarejo isolado nos Alpes conectado à internet pelo IRIS². Esses programas não são somente sobre tecnologia, mas sobre garantir que a Europa controle seu futuro em um mundo imprevisível.


A aceleração desses projetos tem gerado reações mistas. Governos nacionais, como Alemanha e França, apoiam a iniciativa, mas expressam preocupações com os custos. O IRIS², inicialmente orçado em € 6 bilhões, viu seu valor saltar para € 10,6 bilhões, com 61% vindo de fundos públicos. Críticos, como o vice-chanceler alemão Robert Habeck, já questionaram se os recursos poderiam ser mais bem aplicados em outras áreas estratégicas, como defesa terrestre.


Por outro lado, a indústria espacial europeia celebra a notícia. Empresas como Airbus e Thales, que participam de ambos os programas, preveem criar milhares de empregos e o fortalecimento da competitividade global do setor. “É um sinal claro de que a Europa está séria sobre sua soberania tecnológica”, disse um executivo da SpaceRISE.


Apesar do entusiasmo, os projetos enfrentam obstáculos. O IRIS² continua em fase inicial, com os primeiros serviços previstos somente para 2029, enquanto o Starlink já domina o mercado de internet via satélite. Além disso, a falta de infraestrutura de lançamento – como o atraso do foguete Ariane 6 – pode dificultar o cronograma. No caso do Galileo, a modernização dependerá de acordos entre os Estados-membros sobre o financiamento adicional.


A conectividade em áreas rurais, outro desafio, também está no radar. Enquanto o IRIS² promete alcançar zonas remotas, a implementação prática exige superar barreiras como custos de equipamentos e acesso à internet de alta velocidade em regiões menos desenvolvidas.


O avanço do IRIS² e do Galileo reflete a determinação da Europa em se posicionar como protagonista no cenário global, independentemente das oscilações nas políticas americanas ou russas. Com esses programas, a UE não somente busca autonomia tecnológica, mas também reforça sua resiliência em um mundo cada vez mais interconectado e volátil. O sucesso dessa empreitada, porém, dependerá de coordenação política, investimentos contínuos e da capacidade de transformar ambição em resultados concretos até o final da década.

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