Espanha Declara Emergência e Portugal Enfrenta Caos em Apagão
- Editorial O Bahia Post
- há 4 horas
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Falha elétrica paralisa transportes e expõe fragilidade da rede europeia.

Espanha, 28/04/2025 – Um apagão de grandes proporções atingiu Portugal, Espanha e partes de outros países europeus na manhã desta segunda-feira, 28 de abril, por volta das 7h30 (horário de Brasília), desencadeando uma crise sem precedentes.
A Espanha declarou estado de emergência, enquanto Portugal enfrenta caos nos transportes, com metrôs, trens e aeroportos paralisados, além de semáforos inoperantes e longas filas em caixas automáticos. A falha elétrica, atribuída a variações extremas de temperatura no interior da Espanha, comprometeu serviços essenciais, como telecomunicações, saúde e comércio, afetando milhões de pessoas.
A Rede Elétrica Nacional (REN) de Portugal e a Red Eléctrica da Espanha trabalham para restabelecer a energia, mas a normalização completa pode levar até uma semana, expondo a fragilidade da rede elétrica interconectada da Europa.
O apagão, descrito como um dos mais severos em décadas, começou às 11h30 no horário de Lisboa (12h30 na Espanha) e afetou praticamente toda a Península Ibérica, além de partes da França, Bélgica, Alemanha, Polônia, Finlândia, Andorra e Itália. A REN identificou oscilações anômalas nas linhas de alta tensão, causadas por um fenômeno conhecido como “vibração atmosférica induzida”, desencadeado por temperaturas extremas no interior espanhol.
A complexidade da rede elétrica europeia, altamente interconectada, amplificou o problema, provocando falhas em cascata. Embora a hipótese de um ciberataque tenha sido investigada pelo Instituto Nacional de Cibersegurança (Incibe) da Espanha e pelo Centro Nacional de Cibersegurança de Portugal, autoridades, incluindo o primeiro-ministro português Luís Montenegro, descartaram essa possibilidade, afirmando que não há indícios de sabotagem.
Em Portugal, o impacto foi devastador. O metrô de Lisboa e do Porto foi fechado, com passageiros presos em vagões, exigindo resgates de emergência. A Fertagus, operadora ferroviária entre Setúbal e Lisboa, suspendeu todos os trens, e a operadora nacional Renfe, na Espanha, paralisou o tráfego ferroviário em todo o país.
No Aeroporto de Lisboa, o terminal 2, usado por companhias de baixo custo, foi fechado, enquanto Porto e Faro mantiveram operações mínimas com geradores. A Polícia de Segurança Pública (PSP) aumentou o efetivo nas ruas para gerenciar o caos no trânsito, já que semáforos inoperantes causaram engarrafamentos e acidentes. A Transtejo e a Soflusa, que operam barcos no rio Tejo, ofereceram carreiras gratuitas para aliviar a crise de mobilidade.
Na Espanha, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez formou um gabinete de crise na sede da Red Eléctrica, e a capital, Madri, ativou o Plano Municipal de Emergência (PEMAM). O metrô de Madri, um dos maiores da Europa, foi parcialmente evacuado, com estações às escuras e milhares de passageiros afetados. O Aeroporto de Barajas suspendeu pousos e decolagens por 30 minutos, causando atrasos generalizados.
O prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, pediu que os moradores limitassem deslocamentos ao “mínimo absoluto” para liberar as vias. A Red Eléctrica relatou que a energia foi restaurada em nove das 15 regiões autônomas afetadas, incluindo Catalunha, Galiza e Andaluzia, mas cidades como Madri, Sevilha e Málaga permanecem em crise.
O setor de saúde foi priorizado, mas enfrenta dificuldades. Em Portugal, o Hospital de Santa Maria, o maior do país, opera com geradores, mantendo unidades de terapia intensiva e blocos operatórios, mas suspendeu atendimentos não urgentes. O Hospital São João, no Porto, adotou medidas semelhantes, enquanto a Ordem dos Médicos criou um gabinete de crise.
Na Espanha, hospitais em Madri e Barcelona dependem de geradores, mas a incerteza sobre a duração do apagão preocupa as autoridades. O INEM, serviço de emergência português, ativou seu plano de contingência, apelando que a linha 112 seja usada apenas em emergências.
Telecomunicações também foram severamente impactadas. Operadoras como Vodafone, NOS e MEO em Portugal, e Movistar na Espanha, relataram instabilidade nas redes, com chamadas intermitentes e falhas de internet. A Vodafone alertou que, se a reposição de energia demorar, a capacidade das redes pode se deteriorar ainda mais.
Caixas automáticos, essenciais para saques em dinheiro, ficaram inoperantes em muitas áreas, exacerbando o problema nos supermercados, onde pagamentos eletrônicos foram suspensos. Postagens em redes sociais, verificadas até 28/04/2025, indicam longas filas em caixas automáticos e correria em lojas, com prateleiras esvaziando rapidamente em Lisboa e Madri.
Um usuário no X mencionou que a rede Mercadona, na Espanha, manteve lojas abertas com geradores, mas a maioria dos estabelecimentos fechou ou exigia dinheiro vivo, inacessível para muitos. Essas postagens, embora inconclusivas, refletem a gravidade da crise.
A dependência de pagamentos eletrônicos agravou a situação. Em Portugal, cerca de 80% das transações em 2024 eram digitais, segundo o Banco de Portugal, e na Espanha, a tendência é semelhante. A crise revelou os riscos de uma sociedade “cashless”, já que consumidores sem dinheiro em espécie não conseguiram comprar alimentos e itens essenciais.
A EPAL, empresa de abastecimento de água de Lisboa, alertou para possíveis interrupções no serviço, e o grupo Águas de Portugal apelou ao consumo moderado. A EDP, principal distribuidora de energia portuguesa, estimou que a reposição total pode levar várias horas, enquanto a REN prioriza hospitais, forças de segurança e infraestruturas críticas.
A Comissão Europeia, em contato com a Rede Europeia dos Operadores das Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E), afirmou que existem protocolos para restabelecer a rede, mas a recuperação é lenta. João Faria Conceição, administrador da REN, informou que o Grande Porto pode retomar a normalidade em duas horas, mas a Grande Lisboa, com menos centrais próximas, enfrentará atrasos de cinco a seis horas para consumos prioritários.
A Red Eléctrica espanhola destacou que a energização da rede é gradual, exigindo a reativação progressiva de unidades geradoras. Um incidente semelhante no Chile, citado pela REN, levou mais de 24 horas para normalização total, sugerindo a escala do desafio.
A crise reacendeu debates sobre a resiliência energética. A Europa, que investe em redes inteligentes e transição para fontes renováveis, enfrenta crescentes demandas por eletricidade, impulsionadas por veículos elétricos, centros de dados e bombas de calor. Um relatório da Your Europe de 2023 alertava que a interconexão das redes aumenta a vulnerabilidade a falhas em cascata, como a observada hoje. Movimentos ambientalistas, como a Greve Climática Estudantil, aproveitaram o caos para defender uma transição energética descentralizada, argumentando que a dependência de combustíveis fósseis e redes centralizadas fragiliza o sistema.
Os governos de Portugal e Espanha convocaram reuniões de emergência. Em Portugal, o Conselho de Ministros, liderado por Luís Montenegro, prioriza a restauração de serviços essenciais, enquanto a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil monitora a crise. Na Espanha, o gabinete de crise de Pedro Sánchez coordena ações com a Red Eléctrica. A Comissão Europeia prometeu acompanhar a situação, mas a falta de uma causa definitiva e a incerteza sobre prazos mantêm a tensão. Analistas alertam que, sem respostas automáticas do sistema, o apagão poderia ter evoluído para um blackout continental, com impactos devastadores para saúde, economia e segurança.
O apagão, que mergulhou Portugal e Espanha no caos e levou a Espanha a declarar estado de emergência, destaca a urgência de reforçar a infraestrutura elétrica europeia e repensar a dependência de sistemas digitais em momentos de crise.