Alerta: Casos de Viroses e Norovírus Crescem em Salvador antes do Carnaval
- Editorial O Bahia Post
- 26 de fev.
- 4 min de leitura
Especialistas recomendam cuidados redobrados para foliões em 2025.

Salvador, 26 de fevereiro de 2025 – Às vésperas do Carnaval, Salvador enfrenta um aumento preocupante nos casos de viroses, incluindo infecções por norovírus e outros vírus causadores de gastroenterite viral. O crescimento de relatos de vômitos, diarreia e febre tem acendido um alerta entre autoridades de saúde e médicos, que temem uma sobrecarga nos serviços de atendimento durante a maior festa popular da cidade. Com milhões de foliões esperados nas ruas entre 27 de fevereiro e 4 de março, a combinação de aglomerações, calor intenso e consumo de alimentos em condições inadequadas pode agravar a disseminação dessas doenças.
O norovírus, conhecido como a principal causa de gastroenterite viral no mundo, é altamente contagioso e se espalha facilmente em ambientes lotados. Dados históricos do Ministério da Saúde mostram que surtos desse vírus são comuns em períodos de grande circulação de pessoas, como o Carnaval, e Salvador, com sua intensa programação de blocos e trios elétricos, torna-se um cenário propício.
Embora não haja estatísticas oficiais consolidadas para 2025 até o momento, unidades de saúde da capital baiana relatam um aumento significativo de atendimentos por sintomas como náusea, diarreia intensa e desidratação nas últimas semanas, especialmente após os ensaios de verão e eventos pré-carnavalescos.
A situação reflete um padrão global: nos Estados Unidos, por exemplo, o CDC reportou 1.676 surtos de norovírus entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025, um número bem acima da média dos anos anteriores, com picos entre dezembro e março. No Brasil, especialistas apontam que o clima quente e úmido do verão, aliado à falta de higiene em algumas barracas de rua, facilita a proliferação de viroses. “O norovírus sobrevive em superfícies por dias e exige apenas 10 partículas virais para infectar alguém. Em um evento como o Carnaval, com tanta gente em contato próximo, o risco é altíssimo”, explica Ana Paula Vieira, infectologista do Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador.
Os relatos locais reforçam a preocupação. Moradores e turistas que participaram de ensaios de blocos como Olodum e Ilê Aiyê nas últimas semanas descrevem uma onda de mal-estar coletivo. “Eu e três amigos pegamos uma virose forte depois de um ensaio no Pelourinho. Comemos acarajé na rua e, no dia seguinte, estávamos todos de cama”, conta João Silva, 29 anos, em entrevista a um jornal local. Casos assim sugerem que alimentos contaminados – de acarajés a drinks vendidos sem refrigeração adequada – podem estar entre os vetores do problema, uma suspeita reforçada por surtos anteriores associados a frutos do mar e água não tratada.
A prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), ainda não divulgou um boletim oficial sobre o aumento de viroses em 2025, mas já intensificou a fiscalização de barracas e ambulantes para o Carnaval. Em 2024, ações semelhantes identificaram irregularidades em 15% dos pontos de venda inspecionados, com apreensão de alimentos expostos ao sol por horas. Para este ano, a SMS anunciou a instalação de 20 postos médicos nos circuitos Dodô (Barra-Ondina) e Osmar (Campo Grande), preparados para atender casos de desidratação e intoxicação alimentar, sintomas comuns de infecções por norovírus e outras viroses.
Os desafios para conter a disseminação vão além da fiscalização. O Carnaval de Salvador reúne cerca de 2,7 milhões de pessoas por dia, segundo estimativas da gestão municipal, criando um ambiente onde a higiene é difícil de manter. “Você tem foliões compartilhando garrafas d’água, comendo com as mãos sujas e usando banheiros químicos lotados. Isso é um prato cheio para o norovírus”, alerta o epidemiologista Carlos Almeida, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ele destaca que a falta de saneamento básico em algumas áreas da cidade pode agravar o quadro, com esgoto a céu aberto contaminando fontes de água usadas por vendedores informais.
Para os foliões, os cuidados precisam ser redobrados. O norovírus e outras viroses se manifestam rapidamente, com sintomas aparecendo entre 12 e 48 horas após a exposição. Além de vômitos e diarreia, pacientes podem sentir febre baixa, dores abdominais e fadiga, com recuperação geralmente em um a três dias – mas a desidratação é um risco grave, sobretudo para crianças e idosos em meio ao calor de 32°C previsto para a semana do Carnaval. “A chave é prevenção: lavar as mãos com sabão por 20 segundos antes de comer, evitar alimentos crus ou mal armazenados e carregar garrafas d’água próprias”, recomenda Vieira.
A experiência de outros países com surtos recentes oferece lições. Nos EUA, o CDC enfatiza que sabão e água são mais eficazes que álcool em gel contra o norovírus, que resiste a desinfetantes comuns. Superfícies contaminadas, como corrimãos e mesas de bares, também devem ser evitadas ou limpas antes do uso, algo praticamente inviável no tumulto da folia. Para os alimentos, a recomendação é priorizar opções embaladas ou cozidas em alta temperatura, como caldos e tapiocas, em vez de saladas ou frutos do mar crus, que já foram ligados a surtos em festivais passados.
O impacto potencial no Carnaval é significativo. Em 2024, a festa movimentou R$ 2,5 bilhões na economia local, com hotéis lotados e 15 mil empregos temporários gerados, segundo a Secretaria de Cultura e Turismo. Um surto generalizado de viroses poderia afastar turistas e sobrecarregar o sistema de saúde, que já opera no limite durante o evento. “Se as pessoas começarem a passar mal em massa, teremos filas nos postos médicos e uma má impressão para quem vem de fora”, prevê Almeida.
Diante disso, a mensagem é clara: o Carnaval de Salvador, conhecido como o maior do mundo, exige mais do que animação dos foliões em 2025 – requer vigilância. Enquanto a prefeitura intensifica preparativos e a população se divide entre a festa e a cautela, os próximos dias serão decisivos para avaliar se as viroses, incluindo o temido norovírus, vão roubar a cena ou se a alegria baiana prevalecerá. Quem for pular atrás do trio elétrico deve levar consigo, além do abadá, um kit básico de prevenção: água potável, sabão e bom senso.