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Escola de Samba Retrata Dom Pedro II Decapitado no Carnaval do Rio

Alegoria polêmica marca desfile no Sambódromo e divide opiniões.


Dom Pedro II Decapitado no Carnaval do Rio | Divulgação
Dom Pedro II Decapitado no Carnaval do Rio | Divulgação

Rio de Janeiro, 3 de março de 2025 – Uma escola de samba do Rio de Janeiro causou controvérsia no Carnaval de 2025 ao levar para o Sambódromo uma alegoria que retratava um indígena segurando a cabeça decapitada de Dom Pedro II, o último imperador do Brasil. O desfile, realizado na noite de domingo, 2 de março, durante a passagem das escolas do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí, gerou reações intensas entre foliões, espectadores e internautas, reacendendo debates sobre a memória histórica e o uso de figuras públicas em narrativas carnavalescas.


A alegoria, apresentada por uma escola ainda não identificada nos registros oficiais da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) até o momento desta publicação, fazia parte de um enredo que explorava a relação entre os povos indígenas e a história brasileira. O carro alegórico exibia um guerreiro amazônico em pé, segurando a cabeça de Dom Pedro II, enquanto uma caravela portuguesa ao fundo sugeria o período colonial. A imagem, que circulou amplamente em vídeos e fotos nas redes sociais, foi descrita como um “espetáculo grotesco” por críticos, enquanto outros a defenderam como uma crítica simbólica ao imperialismo e à colonização.


Dom Pedro II, que reinou de 1831 a 1889 e faleceu em 1891, é uma figura histórica reverenciada por muitos como um governante progressista, responsável pela abolição da escravatura em 1888 e pela promoção da educação e da cultura no Brasil. Sua decapitação alegórica no desfile foi interpretada por alguns como uma afronta à sua memória. “É um desrespeito a um líder que lutou pelos direitos dos brasileiros, incluindo os indígenas”, afirmou um usuário no X, refletindo o sentimento de indignação que dominou parte das reações online. Outros, no entanto, viram a cena como uma representação artística da resistência indígena contra a opressão colonial, com comentários como “O Carnaval é o lugar de subverter narrativas oficiais”.


O desfile ocorreu no segundo dia dos desfiles do Grupo Especial, que começou no domingo e continuou na segunda-feira, 3 de março, antes do encerramento do Carnaval em 4 de março. A escola responsável pela alegoria ainda não se pronunciou oficialmente sobre o tema, mas a Liesa, que organiza o evento, informou que o enredo passou pelo processo de aprovação padrão, sem detalhar o nome da agremiação ou o título específico do samba-enredo. O Sambódromo, que recebeu cerca de 70 mil pessoas por noite, segundo estimativas da Riotur, foi palco de outras narrativas históricas e políticas, mas a imagem de Dom Pedro II decapitado destacou-se pela ousadia e pelo impacto visual.


O Carnaval do Rio, conhecido por sua mistura de celebração e crítica social, frequentemente aborda temas históricos e contemporâneos em seus desfiles. Em anos anteriores, escolas como a Mangueira (2019) e a Grande Rio (2022) usaram enredos para homenagear figuras marginalizadas e questionar versões oficiais da história brasileira. A escolha de retratar Dom Pedro II de forma tão dramática, no entanto, dividiu opiniões em um momento em que o país já enfrenta tensões sobre memória histórica, como os debates em torno da Lei Áurea e da colonização portuguesa.


A polícia e a segurança pública não registraram incidentes diretos relacionados ao desfile, mas a repercussão nas redes sociais foi imediata. Posts no X variaram entre críticas à “ignorância histórica” da escola e elogios à “coragem de provocar reflexão”. “Dom Pedro II foi um símbolo de união, não merece isso”, escreveu um usuário, enquanto outro retrucou: “A decapitação é simbólica, representa o fim de um sistema que oprimiu os povos originários”. A falta de um posicionamento oficial da escola ou da Liesa até o momento mantém o debate em aberto, com especialistas e foliões aguardando mais contexto sobre a intenção do enredo.


Enquanto o Carnaval 2025 segue até terça-feira, 4 de março, a imagem de Dom Pedro II decapitado já se tornou um dos momentos mais marcantes – e polêmicos – da festa no Rio. O desfile, que faz parte de uma tradição de quase um século na Sapucaí, reforça o papel do Carnaval como espelho das contradições brasileiras, onde alegria e crítica se encontram em um espetáculo que, desta vez, não deixou ninguém indiferente.

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