Contratações Diárias em Lauro de Freitas Irritam Apoiadores de Débora Regis
- Editorial O Bahia Post
- 24 de fev.
- 4 min de leitura
Prefeita enfrenta críticas internas apesar de avanços na revitalização da cidade.

Bahia, 24 de fevereiro de 2025 – A Prefeitura de Lauro de Freitas, sob a gestão da prefeita Débora Regis (União Brasil), tem chamado atenção por uma onda de contratações diárias registradas no Diário Oficial do município, com dezenas de pessoas sendo admitidas para diversos cargos. No entanto, a iniciativa, que poderia ser vista como um impulso ao emprego local, gerou um mal-estar entre apoiadores da prefeita, incluindo candidatos a vereadores e aliados políticos, que acusam a administração de descumprir promessas de priorizar suas indicações. Apesar disso, a gestão de Débora vem sendo elogiada pelos avanços na revitalização urbana, com obras de limpeza, pintura e infraestrutura em andamento na cidade da região metropolitana de Salvador.
Nos últimos relatórios do Diário Oficial, é possível observar um fluxo constante de nomeações para cargos variados, desde funções administrativas até serviços operacionais, como limpeza pública e manutenção urbana. A quantidade exata de contratações não foi consolidada oficialmente, mas estimativas baseadas em publicações recentes sugerem que dezenas de pessoas são admitidas diariamente, totalizando possivelmente milhares ao longo de semanas. Esse movimento ocorre em um município que, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), encerrou 2023 com um saldo positivo de 10.711 novos postos de trabalho, destacando-se como um dos líderes em geração de empregos na Bahia.

O que deveria ser uma boa notícia, no entanto, virou motivo de controvérsia. Débora Regis, empossada em 1º de janeiro de 2025, teria dado diretrizes internas para restringir contratações, priorizando ajustes fiscais após assumir uma prefeitura em estado de calamidade financeira, com dívidas herdadas estimadas em mais de R$ 150 milhões e salários de servidores atrasados desde dezembro de 2024. A expectativa de aliados era que essas restrições fossem flexibilizadas entre março e junho, com a inclusão de indicações políticas prometidas durante a campanha. “Ela disse que ia atender a gente, que os aliados teriam espaço, mas o que vemos é um Diário Oficial cheio de nomes que ninguém conhece”, reclamou um candidato a vereador pelo União Brasil, em condição de anonimato, ao portal local Se Ligue Bahia.
A insatisfação reflete um racha entre a base de apoio da prefeita. Muitos apoiadores, que investiram tempo e recursos na campanha vitoriosa de Débora – eleita com 59,61% dos votos válidos em 2024 –, esperavam contrapartidas na forma de nomeações para cargos comissionados ou contratos temporários. Um ex-vereador da coligação, também anônimo, afirmou que “a gestão está contratando, sim, mas não os nossos. Parece que esqueceram quem esteve nas ruas por ela”. A ausência de diálogo com esses aliados tem gerado críticas internas, com alguns ameaçando abandonar o governo antes mesmo do primeiro semestre.
Enquanto isso, a administração de Débora Regis avança em outra frente: a reestruturação física de Lauro de Freitas. Desde o início do mandato, a prefeita lançou um plano de revitalização que inclui limpeza de ruas, pintura de praças e prédios públicos, recuperação de calçadas e melhorias na iluminação urbana.
Bairros como Itinga, Portão e o Centro já exibem sinais visíveis de transformação, com equipes trabalhando diariamente para recolher entulhos e renovar espaços degradados. “A cidade estava abandonada, e agora vemos movimento, cuidado. Isso ninguém pode negar”, disse Maria Oliveira, comerciante no Centro, refletindo o sentimento de parte da população que aprova as ações.
A dualidade entre as contratações e a revitalização expõe um dilema na gestão. Por um lado, Débora busca cumprir promessas de campanha ao melhorar a infraestrutura e gerar empregos, aproveitando o potencial econômico de uma cidade que, segundo o Caged, é a segunda da Bahia em geração de postos de trabalho. Por outro, as contratações em massa – possivelmente para suprir demandas emergenciais após anos de sucateamento – contradizem as diretrizes de austeridade anunciadas em decretos como o de redução de 30% em cargos comissionados (Decreto nº 5.423) e a suspensão de horas extras (Decreto nº 5.424). O Ministério Público pode vir a questionar a legalidade dessas nomeações, dado o estado de calamidade financeira decretado em janeiro, que limitava contratações não essenciais.
A prefeita, que tomou posse prometendo transparência e ética, ainda não se pronunciou diretamente sobre as críticas dos apoiadores. Em nota oficial, a Secretaria Municipal de Administração informou que “todas as contratações seguem critérios técnicos e legais, atendendo às necessidades urgentes do município”. A gestão também destacou que os salários de janeiro estão sendo pagos em dia, um contraste com o caos financeiro deixado pela ex-prefeita Moema Gramacho (PT), mas que não aplaca a insatisfação dos aliados.
O cenário sugere um governo em corda bamba. A revitalização urbana fortalece a imagem pública de Débora Regis, mas a falta de alinhamento com sua base política pode minar o apoio necessário para aprovar projetos na Câmara Municipal, onde o União Brasil e partidos coligados têm maioria. Se as contratações continuarem sem atender às demandas dos apoiadores, o mal-estar interno pode evoluir para uma crise mais grave, comprometendo a governabilidade. Por outro lado, a população parece valorizar os resultados visíveis nas ruas, o que pode dar fôlego à prefeita para ajustar sua estratégia nos próximos meses.