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Em Arquivos da CIA e JFK Revela que Militares Barraram Comunismo no Brasil

Desclassificação expõe planos de golpe e apoio externo a Goulart em 1964.


Reprodução
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Washington, 20 de março de 2025 – Documentos recém-desclassificados do governo de John F. Kennedy (JFK), liberados em dezembro de 2024 pelo Arquivo Nacional dos EUA, lançam nova luz sobre o golpe militar de 1964 no Brasil.


Segundo os arquivos, os militares brasileiros, com apoio tácito dos Estados Unidos, agiram para impedir o que foi percebido como uma iminente ditadura comunista liderada pelo então presidente João Goulart, o “Jango”.


Os registros, analisados por historiadores em reportagem da History publicada hoje, 20 de março, sugerem que havia planos externos para implantar o comunismo no país, envolvendo figuras como Leonel Brizola e suposto suporte de líderes como Fidel Castro, de Cuba, e Mao Tsé-Tung, da China. O tema reacende debates sobre a legitimidade do golpe e o papel da Guerra Fria na política brasileira.


Os documentos, parte de um lote de milhares de arquivos relacionados ao assassinato de JFK e à política externa americana, detalham conversas entre Kennedy, o embaixador Lincoln Gordon e autoridades do Departamento de Estado em 1962 e 1963.


Um memorando de 1963, assinado por Gordon e endereçado a JFK, expressa temores de que Goulart, aliado a Brizola e ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), estivesse sob pressão de forças comunistas para radicalizar seu governo. “Goulart está em uma campanha para assumir poderes ditatoriais, aceitando a colaboração ativa do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e de revolucionários de esquerda,” escreveu Gordon, conforme citado pela Folha de S.Paulo em análise recente. A narrativa oficial dos EUA era de que o Brasil corria o risco de seguir o caminho de Cuba, onde Castro consolidara um regime comunista em 1959.


O golpe de 31 de março de 1964, que depôs Goulart e instaurou uma ditadura militar de 21 anos, foi planejado pelos altos comandos do Exército brasileiro, liderados pelo general Humberto Castelo Branco, com apoio de setores conservadores, como a Igreja Católica e a elite econômica.


Os arquivos de JFK revelam que os EUA, sob a Operação Brother Sam, posicionaram navios da Marinha, incluindo o porta-aviões USS Forrestal, ao largo do Rio de Janeiro, prontos para intervir caso os militares brasileiros precisassem de reforço, conforme detalhado pelo Brasil de Fato em 2024. Embora a intervenção direta não tenha sido necessária – Goulart deixou o poder sem resistência armada –, os documentos mostram que Washington via o Brasil como um campo de batalha crucial na Guerra Fria contra o comunismo.


Entre as evidências citadas nos arquivos está o suposto apoio externo a Goulart e Brizola, então governador do Rio Grande do Sul e defensor de reformas de base, como a reforma agrária.


Um relatório da CIA, datado de 1962, sugere que Brizola mantinha contatos com emissários cubanos e chineses, que teriam oferecido “suporte material e voluntários” para uma resistência caso Jango fosse impedido de governar.


“Havia um plano para transformar o Brasil em um satélite comunista, com Brizola como figura-chave,” diz o documento, conforme repercutido pela History. Historiadores, no entanto, divergem sobre a veracidade dessas alegações. Para Marcus Dezemone, da Universidade Federal Fluminense (UFF), entrevistado pelo Brasil de Fato, “os EUA exageraram a ameaça comunista para justificar sua intervenção.”


A percepção de uma “ameaça vermelha” no Brasil ganhou força após a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961, quando setores militares tentaram impedir a posse de Goulart, vice-presidente à época. A Campanha da Legalidade, liderada por Brizola, garantiu a posse de Jango, mas sob um regime parlamentarista temporário, que limitava seus poderes.



O retorno ao presidencialismo em 1963, após um plebiscito, intensificou as tensões. Os arquivos de JFK mostram que Kennedy e Gordon temiam que as reformas propostas por Goulart – como a nacionalização de empresas estrangeiras e a distribuição de terras – fossem um prelúdio para um alinhamento com o bloco soviético. “O Brasil não pode se tornar outra Cuba,” disse Kennedy em uma gravação de 1962, divulgada pelo National Security Archive em 2014 e agora contextualizada pelos novos documentos.


A historiografia brasileira, no entanto, questiona a narrativa de uma ditadura comunista iminente. O The Intercept, em análise de 2022 sobre documentos anteriores, argumenta que a suposta força das “guerrilhas de Jango” e do PCB era uma fantasia amplificada pelos EUA e pelos militares brasileiros para justificar o golpe.


O historiador Rodrigo Patto Sá Motta, em entrevista à Folha de S.Paulo em 2024, reforça: “Não havia evidências de um movimento comunista capaz de derrubar a democracia em 1964. A resistência armada só surgiu depois do golpe, como reação à ditadura.” Dados de pesquisas da época, como as do Ibope em São Paulo, mostram que apenas 16% da população via as reformas de Goulart como um caminho para o comunismo, segundo o The Atlantic em 2020.


Os documentos desclassificados também expõem a influência americana antes do golpe. A Aliança para o Progresso, lançada por Kennedy em 1961, destinou milhões de dólares ao Brasil para conter o avanço do socialismo, enquanto a CIA financiou campanhas anti-Goulart nas eleições municipais de 1962, conforme admitido por Gordon em 1976 (Brasil de Fato).


Em paralelo, os militares brasileiros, alinhados à Escola Superior de Guerra (ESG) e à doutrina anticomunista, preparavam o terreno. O general Olímpio Mourão Filho, que liderou a marcha de Juiz de Fora a Rio de Janeiro em 1964, já havia forjado o Plano Cohen em 1937 – um documento falso sobre uma conspiração comunista – para justificar a ditadura de Vargas, evidenciando a longa tradição de paranoia anticomunista no país.


O impacto dos arquivos de JFK é significativo. Para os defensores do golpe, como setores conservadores brasileiros, os documentos validam a tese de que os militares salvaram o país do comunismo. “Os arquivos comprovam o que já sabíamos: havia um plano real, com apoio de Cuba e China,” disse um editorial do O Estado de S.Paulo em 19 de março de 2025. Críticos, porém, veem os registros como prova de manipulação americana. “Os EUA usaram o fantasma do comunismo para derrubar um governo eleito,” afirmou o historiador James Green ao The Intercept em 2024, destacando que Goulart era um reformista, não um revolucionário.


A ditadura que se seguiu ao golpe – chamada de “Anos de Chumbo” – deixou um legado de repressão, com mais de 400 mortos, milhares de torturados e censura generalizada, conforme o relatório da Comissão Nacional da Verdade de 2014.


Os documentos de JFK não mencionam esses abusos, focando apenas na justificativa pré-golpe, mas reforçam o papel dos EUA em apoiar o regime militar, que foi reconhecido imediatamente por Washington como uma “força democrática” contra o comunismo (History).


No Brasil de 2025, os arquivos reacendem um debate polarizado. Enquanto alguns celebram os militares como heróis, outros exigem uma revisão histórica que reconheça as vítimas da ditadura.


Os documentos de JFK, embora esclarecedores, não encerram a controvérsia: mostram os planos e temores da época, mas deixam em aberto se o comunismo era uma ameaça real ou um pretexto para a intervenção.

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