Larry Fink, da BlackRock, Alerta: Recessão Pode Estar em Curso
- Editorial O Bahia Post
- 7 de abr.
- 5 min de leitura
CEO da maior gestora do mundo diz que economia já sente desaceleração.

São Paulo, 07/04/2025 – Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo com mais de US$ 11,5 trilhões sob administração, afirmou nesta segunda-feira que "provavelmente estamos em recessão agora".
A declaração, feita durante uma entrevista ao Economic Club de Nova York, reflete uma visão pessimista sobre o estado atual da economia global e americana, em um momento de crescentes incertezas devido a tarifas comerciais, inflação persistente e políticas protecionistas.
Apesar do tom de alerta, Fink também sugeriu que a queda recente nos mercados acionários pode representar uma oportunidade de compra a longo prazo.
A BlackRock, fundada há 37 anos por Fink e outros sócios, tornou-se uma referência no mercado financeiro global, gerenciando desde fundos de índice até investimentos em mercados privados. A fala do executivo ocorre em um contexto de volatilidade nos mercados, com o índice S&P 500 registrando uma queda de 20% nas últimas três semanas, segundo dados preliminares da Bloomberg. Fink atribuiu parte desse cenário às políticas comerciais do governo de Donald Trump, reeleito em 2024, que impôs tarifas de até 25% sobre importações de países como China e União Europeia desde março.
A economia americana, que cresceu 2,8% em 2024 conforme o Departamento de Comércio dos EUA, enfrenta agora sinais de desaceleração. O desemprego subiu para 4,3% em março de 2025, ante 4,1% no fim do ano passado, enquanto a inflação acumulada em 12 meses atingiu 3,8%, acima da meta de 2% do Federal Reserve. Fink destacou que as tarifas, embora destinadas a proteger a indústria local, podem agravar a pressão inflacionária e reduzir o poder de compra dos consumidores, criando um ciclo que já estaria em andamento.
No Brasil, o impacto das palavras de Fink foi sentido no mercado financeiro. O Ibovespa caiu 1,8% hoje, fechando em 126.500 pontos, enquanto o dólar comercial subiu 0,9%, cotado a R$ 5,89, segundo o Banco Central. A dependência brasileira de exportações de commodities, como soja e minério de ferro, torna o país vulnerável a uma recessão global. Dados da Confederação Nacional da Indústria mostram que 60% das empresas brasileiras esperam uma redução nas vendas externas no segundo trimestre de 2025, caso as tarifas americanas se mantenham.
A visão de Fink não é unânime. Economistas como Nouriel Roubini, que previu a crise de 2008, concordam que uma recessão é provável, apontando para a contração no consumo e no investimento privado nos EUA. Já outros, como Janet Yellen, ex-presidente do Fed e atual conselheira econômica, argumentam que os indicadores ainda não confirmam uma recessão plena, destacando a resiliência do mercado de trabalho. O PIB americano no primeiro trimestre de 2025 será divulgado apenas em maio, mas projeções do Goldman Sachs estimam um crescimento anualizado de apenas 0,5%, um sinal de estagnação.
A declaração de Fink ecoa preocupações expressas em sua carta anual aos investidores, publicada em 31 de março. No documento, ele já havia alertado que "quase todas as pessoas com quem falo estão mais ansiosas sobre a economia do que em qualquer momento recente". Ele evitou menções diretas a temas politicamente sensíveis como ESG ou DEI, focando em oportunidades de longo prazo em mercados privados, como infraestrutura e crédito, que a BlackRock vem expandindo com aquisições como a Global Infrastructure Partners, por US$ 12,5 bilhões, em 2024.
A possibilidade de uma recessão já mobiliza os bancos centrais. O Federal Reserve manteve os juros entre 5,25% e 5,50% em sua última reunião, mas analistas esperam um corte de 0,25 ponto percentual em maio, caso os dados confirmem a desaceleração. No Brasil, o Copom, que fixou a Selic em 10,5% em março, enfrenta um dilema: reduzir os juros para estimular a economia ou mantê-los altos para conter a inflação importada pelo dólar mais caro. O Banco Central brasileiro não comentou a fala de Fink até o momento.
A reação dos mercados globais foi imediata. O índice FTSE 100, em Londres, caiu 1,5%, enquanto o Nikkei, em Tóquio, recuou 2,1% na abertura de terça-feira, horário local. O preço do petróleo Brent, negociado a US$ 82 por barril, subiu 1,8%, refletindo temores de que uma recessão reduza a demanda, mas também eleve os custos de produção em economias dependentes de energia importada, como o Brasil. A Petrobras, que ajusta os preços ao mercado internacional, pode anunciar novos aumentos nos combustíveis nos próximos dias.
Fink, no entanto, tentou equilibrar o tom sombrio com uma perspectiva otimista. Ele afirmou que quedas bruscas nos mercados, como a atual, são "momentos de oportunidade" para investidores de longo prazo. "Não retiraria meu dinheiro agora. É um excelente ponto de entrada", disse, destacando tendências como a inovação tecnológica e a inteligência artificial, que, segundo ele, continuarão a impulsionar o crescimento em setores específicos, mesmo em um cenário recessivo. A BlackRock, que lançou o maior ETF de Bitcoin da história em 2024, o IBIT, com mais de US$ 50 bilhões em ativos, aposta na digitalização como um contrapeso às turbulências econômicas.
No Brasil, a percepção pública também reflete ansiedade. Postagens no X mostram reações como "o dólar a R$ 5,89 já é o começo do fim" e "se até o Fink diz que estamos em recessão, é melhor estocar comida". Esses comentários, embora anedóticos, indicam o impacto psicológico da fala de um dos nomes mais influentes do mercado financeiro. A Confederação Nacional do Comércio reportou que a confiança do consumidor caiu 5% em março, um reflexo da incerteza global que agora ganha contornos mais definidos com o alerta de Fink.
A trajetória da BlackRock sob o comando de Fink dá peso às suas palavras. Desde sua fundação em 1988, a empresa revolucionou a gestão de ativos com o software Aladdin e os ETFs iShares, que hoje respondem por mais de US$ 4 trilhões de seu portfólio. Recentemente, a gestora tem migrado para ativos alternativos, como infraestrutura e crédito privado, uma estratégia que Fink defende como essencial para diversificar investimentos em tempos de crise. Em sua carta de março, ele propôs um modelo de portfólio 50/30/20 (ações, títulos e ativos privados), substituindo o tradicional 60/40, uma mudança que reflete sua visão de futuro.
Os efeitos de uma recessão, se confirmada, seriam amplos. Nos EUA, a imposição de tarifas pode reduzir o crescimento global em 0,8 ponto percentual em 2025, segundo o FMI, afetando exportadores como o Brasil, cuja balança comercial depende em 20% do mercado americano. A agricultura, que responde por 25% do PIB brasileiro segundo o IBGE, já sente a pressão, com o preço da soja caindo 3% hoje na Bolsa de Chicago. Pequenas e médias empresas, que empregam 70% da força de trabalho no país, também temem uma queda na demanda interna, agravada pela alta do dólar.
A fala de Fink reacende debates sobre o papel dos grandes gestores de ativos em tempos de incerteza. Críticos apontam que a BlackRock, com participações em milhares de empresas globais, tem influência desproporcional sobre políticas econômicas, enquanto defensores destacam sua capacidade de antecipar tendências. Em 2020, durante a pandemia, Fink também previu desafios significativos, orientando clientes a manterem posições de longo prazo, uma estratégia que se provou acertada com a recuperação dos mercados em 2021.
Enquanto os dados econômicos de abril se consolidam, o alerta de Fink coloca governos e investidores em estado de atenção. No Brasil, o Ministério da Economia planeja divulgar medidas de estímulo na próxima semana, possivelmente incluindo incentivos fiscais para exportadores. Nos EUA, a Casa Branca minimizou o risco de recessão, mas admitiu que o impacto das tarifas será monitorado. O futuro, por ora, depende de como os mercados digerirão esse diagnóstico de um dos maiores nomes da finança global.