top of page
Publicidade
LUCIANA-GOUVEIA-SALON-CONCEPT-_970-x-150-px_.avif

Moradores de Guarajuba Relatam Superlotação e Impactos do Turismo Desordenado

Tranquilidade da região é ameaçada por excursões e falta de fiscalização. “Em dia de excursão eles destroem a praia, tem consumo de drogas e som alto”.


Interior de Guarajuba | Créditos: O Bahia Post
Interior de Guarajuba | Créditos: O Bahia Post

Guarajuba, 8 de março de 2025 – A pacata vila de Guarajuba, localizada no litoral norte da Bahia, a cerca de 42 km de Salvador, conhecida por sua tranquilidade, praias cristalinas e qualidade de vida, enfrenta um cenário de transformação que tem gerado insatisfação entre seus moradores.


O aumento do turismo de excursões, principalmente vindas da capital baiana e de cidades próximas, trouxe superlotação às praias e uma série de problemas que comprometem o sossego e a infraestrutura local. Os residentes, que antes viam no turismo uma fonte vital de renda, agora reclamam de poluição, depredação e insegurança, enquanto a gestão municipal tenta responder com medidas para conter o caos.


Os relatos dos moradores apontam para uma mudança drástica no cotidiano de Guarajuba, especialmente nos fins de semana e feriados prolongados, quando ônibus lotados despejam centenas de visitantes nas praias. “A gente sempre recebeu turistas, mas agora é um exagero. Não tem mais espaço pra aproveitar a praia em paz”, desabafou uma residente de longa data em conversa com nossa equipe durante uma visita ao local em 2024. As principais queixas incluem a superlotação das faixas de areia, que dificulta o acesso até mesmo para quem vive ali, e o acúmulo de lixo descartado irregularmente em rios, mares e ruas, evidenciando a falta de conscientização de parte dos visitantes.


Outro ponto de tensão é a depredação de espaços públicos recém-reformados, como praças e calçadas, que sofrem com o uso intenso e descuidado. “Investiram para deixar tudo bonito, mas em um dia de excursão já está cheio de garrafas quebradas e bancos danificados”, relatou um comerciante local.


Os engarrafamentos, agravados pela circulação de ônibus de grande porte em ruas estreitas, também se tornaram rotina, transformando o trânsito em um pesadelo para quem depende da mobilidade na região. Além disso, sons altos de caixas de som portáteis e comportamentos inadequados, como consumo de drogas e desrespeito às normas comunitárias, foram registrados com frequência, segundo os moradores.


A segurança é uma preocupação crescente. Guarajuba, conhecida por suas casas com muros baixos ou sem barreiras, sempre foi vista como um refúgio seguro. No entanto, o fluxo descontrolado de visitantes levantou temores de furtos e invasões.


“Minha casa não tem portão alto, nunca precisei. Mas agora fico com medo de deixar tudo aberto com tanta gente desconhecida circulando”, confessou uma moradora que preferiu não se identificar. Visitas realizadas ao local em diferentes ocasiões – incluindo um sábado movimentado em janeiro e um feriado prolongado em fevereiro – confirmaram as queixas: praias lotadas, resíduos espalhados e um clima de tensão entre residentes e turistas eram evidentes.


O perfil das excursões, muitas delas oriundas de comunidades carentes de Salvador e do interior, tem sido um ponto sensível nas reclamações. Embora os moradores reconheçam a importância do turismo para a economia local – que movimenta pousadas, restaurantes e o comércio informal –, há quem critique abertamente a falta de estrutura para receber esse público. “Não é questão de preconceito, é logística. Não tem banheiro suficiente, não tem fiscalização, e quem sofre somos nós que vivemos aqui o ano todo”, explicou um comerciante que atua na praça central. A ausência de políticas públicas para ordenar o fluxo de visitantes é apontada como a raiz do problema.


Diante das pressões, a gestão municipal de Camaçari, responsável por Guarajuba, começou a implementar medidas para mitigar os impactos. Uma portaria de acesso está em construção na entrada da vila, com previsão de conclusão em 2025, segundo a prefeitura. A estrutura promete controlar o número de veículos e visitantes, além de reforçar a segurança com guardas e identificação prévia para ônibus de excursão. “Vai ser um divisor de águas. Hoje entra quem quer, como quer, e a gente fica refém”, disse um morador otimista com a iniciativa.


Outras ações incluem reformas em praças e ruas, já em andamento, para recuperar áreas danificadas e preservar a estética urbana que atrai tanto moradores quanto turistas. O aumento no número de câmeras de monitoramento também foi anunciado, com instalação prevista para os próximos meses, visando coibir comportamentos inadequados e oferecer mais tranquilidade. “As câmeras vão ajudar a identificar quem causa problema e inibir bagunça”, acredita uma residente que participou de uma reunião com autoridades locais. A prefeitura ainda estuda a criação de uma taxa para ônibus de turismo, mas a proposta enfrenta resistência de operadores do setor.


Nas redes sociais, o tema divide opiniões. Alguns usuários defendem o direito de todos de aproveitar as praias, com comentários como “Guarajuba não é só dos ricos, o povo também merece curtir”. Outros apoiam os moradores, destacando que “sem controle, vira bagunça e ninguém aproveita”. O debate reflete a dificuldade de equilibrar o turismo com a qualidade de vida local. Enquanto as medidas da gestão são vistas como promissoras, os residentes cobram fiscalização mais rigorosa e campanhas de conscientização para os visitantes, na esperança de que Guarajuba volte a ser o refúgio tranquilo que os atraiu.

Publicidade
Publicidade
img970x250-1743520499459.avif
bottom of page