O que é o Signal, Aplicativo Usado pela Equipe de Trump para Planos de Guerra?
- Editorial O Bahia Post
- 25 de mar.
- 5 min de leitura
Plataforma criptografada gera polêmica após vazamento nos EUA.

São Paulo, 25 de março de 2025 – O aplicativo de mensagens Signal voltou ao centro das atenções globais nesta semana após um incidente envolvendo altos funcionários da administração do presidente Donald Trump.
Em 24 de março, a revista The Atlantic revelou que autoridades americanas usaram o serviço para compartilhar planos de guerra contra os rebeldes houthis no Iêmen, incluindo detalhes operacionais sensíveis, e acidentalmente incluíram o editor-chefe da publicação, Jeffrey Goldberg, no grupo de conversa.
O caso, que levou parlamentares democratas a pedirem uma investigação no Congresso sobre a segurança nacional, reacende o debate sobre o uso de plataformas criptografadas por governos e levanta questões sobre o que torna o Signal uma escolha para comunicações confidenciais.
O Signal é um serviço de mensagens seguro que utiliza criptografia de ponta a ponta, garantindo que somente os participantes de uma conversa possam acessar seu conteúdo. Diferentemente de aplicativos como WhatsApp ou iMessage, o Signal foi projetado com foco extremo em privacidade, coletando o mínimo de dados dos usuários e mantendo seu código aberto para inspeção pública.
Disponível para smartphones e computadores, o aplicativo permite mensagens de texto, chamadas de voz e vídeo, exigindo somente um número de telefone para registro. Sua popularidade cresceu entre ativistas, jornalistas e até governos, mas o recente vazamento expôs os riscos de usar uma ferramenta comercial para assuntos de alta sensibilidade.
O incidente começou em 13 de março, quando Goldberg recebeu um convite para o grupo “Houthi PC Small Group” no Signal, criado pelo conselheiro de segurança nacional Mike Waltz. A conversa incluía figuras como o vice-presidente JD Vance, o secretário de Defesa Pete Hegseth e a diretora de Inteligência Nacional Tulsi Gabbard, entre outros.
Horas antes dos ataques americanos contra os houthis, iniciados em 15 de março, Hegseth compartilhou detalhes como alvos, armas e sequenciamento dos ataques, segundo a The Atlantic. A inclusão acidental de um jornalista em um chat de alto nível gerou alarme em Washington, com o Conselho de Segurança Nacional (NSC) confirmando a autenticidade da thread e iniciando uma investigação sobre como o erro ocorreu.
Sob a lei americana, o manejo inadequado de informações classificadas pode ser crime, conforme o Espionage Act de 1917, que proíbe a remoção ou divulgação de dados sensíveis por negligência grave. Não está claro se os detalhes compartilhados no grupo eram oficialmente classificados, mas a exposição de planos militares antes de uma operação compromete a segurança de tropas e a eficácia das ações.
Parlamentares democratas, como o líder do Senado Chuck Schumer, classificaram o caso como uma das violações de inteligência militar mais graves em décadas e exigiram esclarecimentos sobre o uso do Signal por autoridades do governo Trump.
O Signal foi criado em 2013 por Moxie Marlinspike e é mantido pela Signal Foundation, uma organização sem fins lucrativos fundada em 2018 com apoio inicial de Brian Acton, cofundador do WhatsApp. Sua missão, segundo o site oficial, é proteger a liberdade de expressão e possibilitar comunicações seguras globalmente por meio de tecnologia de código aberto.
Ao contrário de outros aplicativos, o Signal não armazena metadados como histórico de contatos ou registros de chamadas, e seu protocolo de criptografia é adotado por serviços como WhatsApp e Skype. Essa arquitetura o torna uma escolha confiável para quem busca privacidade, mas também um alvo de críticas de governos que o veem como obstáculo para investigações de segurança.
A adoção do Signal por funcionários públicos não é novidade. Em 2017, o Senado dos EUA aprovou seu uso por assessores parlamentares, e durante o governo Biden alguns oficiais tinham permissão para instalá-lo em celulares oficiais, embora com uso restrito a notificações de mensagens classificadas em outros sistemas.
No entanto, especialistas em segurança questionam sua adequação para discussões de alto risco nacional. Ben Wood, analista-chefe da CCS Insight, afirmou que, apesar de ser altamente seguro para consumidores devido à criptografia e à mínima coleta de dados, o Signal não parece apropriado para comunicações de segurança nacional, como as do caso Trump.
O vazamento também destaca uma ironia política. Durante a campanha de 2016, Trump criticou duramente Hillary Clinton pelo uso de um servidor de e-mail privado para assuntos oficiais, o que levou a uma investigação do FBI. Agora, sua equipe enfrenta acusações de negligência semelhante ao usar um aplicativo comercial para planos militares.
O NSC defendeu as mensagens como um exemplo de “coordenação política profunda e pensada” entre altos funcionários, mas não explicou por que o Signal foi escolhido em vez de canais governamentais seguros, como sistemas internos de e-mail ou plataformas militares criptografadas.
A popularidade do Signal cresceu nos últimos anos, impulsionada por eventos como o ataque ao Capitólio em 2021, quando Elon Musk tuitou “Use Signal”, causando um pico de downloads. A plataforma também é usada por jornalistas da Reuters para receber dicas confidenciais e pela Comissão Europeia para comunicações internas. Sua infraestrutura de servidores centralizados, mantida pela Signal Messenger, garante estabilidade, mas o caso Trump expôs vulnerabilidades humanas, como erros de configuração, que nenhuma criptografia pode prevenir.
Após o incidente, o Pentágono anunciou planos para reforçar controles sobre vazamentos, incluindo o possível uso de polígrafos para identificar fontes de jornalistas.
No Brasil, o Signal tem sido adotado por ativistas e profissionais que buscam alternativas ao WhatsApp, especialmente após preocupações com privacidade levantadas por mudanças na política da Meta em 2021. Embora menos popular que seu concorrente, que domina o mercado local com mais de 120 milhões de usuários, o Signal ganhou espaço entre aqueles que priorizam segurança.
O incidente nos EUA pode influenciar o debate sobre o uso de aplicativos criptografados em contextos oficiais no país, onde o governo também lida com desafios de proteção de dados sensíveis.
O caso reacende questões sobre o equilíbrio entre privacidade e segurança nacional. Enquanto o Signal oferece proteção robusta contra hackers e vigilância, sua natureza comercial e acessibilidade o tornam suscetível a falhas operacionais, como a inclusão equivocada de Goldberg.
O secretário de Defesa Hegseth negou ter compartilhado planos de guerra, chamando o relato da The Atlantic de “fraude”, mas não esclareceu por que o aplicativo foi usado ou como o erro aconteceu. Trump, ao ser questionado, disse desconhecer o incidente e criticou a revista, afirmando que “não é muito fã” dela.
A investigação do NSC deve determinar como um número externo foi adicionado ao grupo e se houve violação de protocolos de segurança. Enquanto isso, o episódio expõe os desafios de gerenciar comunicações sensíveis em uma era de ferramentas digitais amplamente disponíveis.
Para o Signal, o incidente é um teste de reputação: embora sua tecnologia permaneça intacta, a associação com um erro humano de alto perfil pode levantar dúvidas sobre seu uso em contextos críticos. Para a administração Trump, é um lembrete de que mesmo as plataformas mais seguras dependem da disciplina de quem as opera.
O futuro do Signal no âmbito governamental permanece incerto. Embora continue sendo uma ferramenta confiável para comunicações privadas, seu papel em assuntos de Estado pode ser reavaliado após esse episódio.
Nos EUA, o Congresso deve discutir medidas para regular o uso de aplicativos comerciais por autoridades, enquanto o público observa como a Casa Branca lidará com as consequências de um vazamento que, por acidente, revelou mais do que pretendia.