Parque Shopping Bahia Enfrenta Onda de Insegurança em Lauro de Freitas
- Editorial O Bahia Post
- 2 de mar.
- 4 min de leitura
Sequestros, furtos e assaltos alarmam frequentadores e expõem fragilidade na segurança privada e pública.

Lauro de Freitas, 2 de março de 2025 – O Parque Shopping Bahia, maior centro comercial de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, está sob os holofotes devido a uma série de incidentes que têm abalado a percepção de segurança no local. Relatos recentes de sequestros, furtos, perseguições dentro do empreendimento e assaltos nas imediações expõem uma crescente preocupação entre frequentadores, lojistas e moradores, em um momento em que a cidade enfrenta um aumento da criminalidade. A escassez de seguranças no shopping e a ausência de uma presença policial mais robusta ao redor do complexo intensificam os debates sobre medidas para proteger um dos principais geradores de impostos do município.
Nos últimos meses, o Parque Shopping Bahia, inaugurado em março de 2020 e conhecido por seu mix de 190 lojas, cinema com nove salas e uma arena esportiva, tornou-se cenário de episódios alarmantes. Frequentadores relatam casos de sequestros-relâmpago no estacionamento, com ao menos dois incidentes confirmados em fevereiro de 2025, segundo fontes locais. Um desses casos envolveu uma mulher abordada por dois homens armados ao entrar em seu carro, sendo liberada horas depois em uma estrada próxima após ter seus pertences roubados. Além disso, assaltos à mão armada na frente do shopping, especialmente na Avenida Santos Dumont, onde o fluxo de pedestres e veículos é intenso, têm se tornado rotina, com registros de furtos de celulares e bolsas quase diários.
Dentro do shopping, a sensação de insegurança também cresce. Testemunhas descrevem perseguições em que suspeitos seguiram vítimas pelos corredores, aproveitando a movimentação para agir. “Eu vi um homem correndo atrás de uma moça perto da praça de alimentação. Ninguém sabia se era briga ou assalto, mas os seguranças demoraram a aparecer”, contou uma frequentadora ao jornal Correio, sob anonimato. Outro caso, amplamente comentado nas redes sociais, envolveu um grupo que tentou roubar uma loja de eletrônicos em janeiro, fugindo antes da chegada da segurança. Esses episódios evidenciam a percepção de que o número de seguranças no shopping é insuficiente para lidar com o volume de visitantes – cerca de 30 mil por dia, segundo estimativas do empreendimento – e com a escalada da violência na região.
Lauro de Freitas vive um momento de aumento da criminalidade, refletido em dados recentes. Em 2024, o município registrou um crescimento de 12% nos homicídios e 18% nos roubos em comparação com 2023, conforme o Anuário de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A proximidade com Salvador, que historicamente concentra altos índices de violência, e a localização do shopping na Estrada do Coco, uma via de grande circulação, tornam o Parque Shopping Bahia um alvo atrativo para criminosos. Apesar disso, frequentadores e lojistas apontam que a equipe de segurança privada do shopping opera com um contingente reduzido, estimado em menos de 30 agentes por turno, o que seria inadequado para um complexo de 144 mil m² que inclui estacionamento, lojas e áreas de lazer.
A prefeitura de Lauro de Freitas, responsável por parte da segurança pública na cidade, enfrenta pressão para agir. O Parque Shopping Bahia é uma das principais fontes de arrecadação de impostos do município, contribuindo com milhões de reais anuais em ISS (Imposto Sobre Serviços) e repasses indiretos via ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Em 2024, a receita tributária da cidade atingiu R$ 1,03 bilhão, segundo o Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, e o shopping desempenha um papel chave nesse montante ao impulsionar o comércio e o turismo local. “É inadmissível que um lugar tão importante tenha tão pouca proteção. A prefeitura precisa colocar viaturas ao redor do shopping, reforçar as rondas da Guarda Municipal e trabalhar com a Polícia Militar”, afirmou João Mendes, comerciante da região, em entrevista ao portal A Tarde.
A gestão municipal, sob o comando da prefeita Débora Regis (União Brasil), ainda não anunciou medidas específicas para o shopping, mas tem intensificado blitze fiscais na cidade, que arrecadaram R$ 47 milhões até 25 de fevereiro de 2025.
Críticos argumentam que parte desses recursos deveria ser direcionada para a segurança pública, especialmente em pontos estratégicos como o Parque Shopping. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que a Polícia Militar realiza rondas na área, mas não detalhou o efetivo destacado para o entorno do empreendimento. Já a administração do shopping, gerida pela Ancar Ivanhoe, limitou-se a dizer que “está em contato com as autoridades para reforçar a segurança” e que “prioriza o bem-estar de seus clientes”, sem especificar planos para aumentar o número de seguranças privados.
Os incidentes recentes reacendem memórias de eventos passados no shopping, como o acidente no Magic Games Park em março de 2022, quando um pai e sua filha foram arremessados de um brinquedo, levando à interdição temporária do parque interno. Embora o caso estivesse ligado à segurança estrutural, ele já apontava fragilidades na gestão de riscos do empreendimento. Agora, com a criminalidade em alta, lojistas temem uma queda no movimento – que já caiu 8% em 2024, segundo a Associação Comercial de Lauro de Freitas – e consumidores cobram soluções imediatas. “Eu evito ir à noite. O estacionamento é um breu, e você fica olhando para os lados o tempo todo”, relatou Maria Oliveira, moradora de Vilas do Atlântico, em um grupo local no WhatsApp.
A situação expõe um dilema para Lauro de Freitas: equilibrar o desenvolvimento econômico impulsionado pelo shopping com a segurança de quem o frequenta.
Enquanto a prefeitura arrecada impostos robustos do complexo, a falta de viaturas e policiamento ostensivo ao redor do Parque Shopping Bahia alimenta a sensação de abandono. Se nada for feito, o shopping, que já foi celebrado como um marco de modernidade, corre o risco de ser lembrado como um símbolo de vulnerabilidade em uma cidade que não consegue proteger um de seus maiores ativos.