Aprovação ao Governo Lula Cai de 35% para 24% em 2025
- Editorial O Bahia Post
- 5 de abr.
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Pesquisa de 05/04/2025 mostra o menor índice de aprovação do governo Lula em seus mandatos, com reprovação subindo para 41% e 32% avaliando como regular.

Brasília, 05/04/2025 – A aprovação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva caiu de 35% em dezembro de 2024 para 24% em fevereiro de 2025, o menor índice registrado em seus três mandatos, segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em 14 de fevereiro.
O levantamento, que ouviu 2.007 pessoas entre 10 e 11 de fevereiro, com margem de erro de dois pontos percentuais, mostrou também que a reprovação subiu de 34% para 41%, enquanto 32% dos entrevistados avaliaram a gestão como regular.
Os números, os mais recentes disponíveis, sugerem um desgaste contínuo do governo em seu terceiro ano.
O resultado marca um ponto de inflexão para Lula, que assumiu o terceiro mandato em 1º de janeiro de 2023. Nos primeiros meses, a aprovação oscilou em torno de 36%, sustentada por medidas como o reajuste do Bolsa Família e a promessa de retomada econômica.
No entanto, os dados de fevereiro indicam que a confiança pública diminuiu. A alta no custo de vida e a implementação de novas regras para o Pix, que desde janeiro exigem maior controle de transações acima de R$ 5 mil, estão entre os fatores citados por analistas como possíveis razões para a queda.
O Nordeste, uma região historicamente favorável ao PT, também reflete o declínio. Em dezembro de 2024, 49% dos nordestinos aprovavam o governo, mas esse índice caiu para 33% em fevereiro de 2025, segundo o Datafolha.
Entre os eleitores de baixa renda, outro grupo tradicionalmente alinhado ao partido, a aprovação recuou de 44% para 29%. A pesquisa não detalha causas específicas, mas entrevistados mencionaram a inflação como preocupação central.
A reprovação, agora em 41%, supera em sete pontos o índice de dezembro e é a maior já registrada pelo Datafolha nos mandatos de Lula. Durante a crise do mensalão, em 2005, o petista chegou a 28% de aprovação, até então seu pior desempenho.
No segundo mandato, entre 2007 e 2010, alcançou picos de mais de 80%, beneficiado por um ciclo econômico favorável. Desta vez, o cenário é mais desafiador, com o PIB crescendo apenas 1,8% em 2024, segundo o IBGE, abaixo das expectativas iniciais de 2,5%.
O Palácio do Planalto não comentou os números de fevereiro oficialmente até o momento. Nos corredores do governo, aliados avaliam que a comunicação precisa ser ajustada para reconquistar a opinião pública.
A oposição, por outro lado, aproveitou os dados para intensificar críticas. Um parlamentar do PL declarou em redes sociais que “o povo cansou das promessas não cumpridas”, ecoando um sentimento que ganha força entre adversários políticos do PT.
No X, as reações mostram a polarização habitual. Um usuário escreveu: “24% é muito ainda, esse governo é um fracasso”, enquanto outro retrucou: “Lula herdou um país quebrado, a culpa não é só dele”.
Esses comentários, embora expressivos, não têm peso estatístico, mas ilustram o debate que atravessa o país. A pesquisa, por sua vez, oferece um retrato mais concreto da insatisfação.
A queda foi mais acentuada entre mulheres, com a aprovação passando de 38% para 24%, e entre idosos acima de 60 anos, de 46% para 32%, conforme o Datafolha.
Entre os que têm ensino superior, a reprovação chegou a 45%, enquanto entre os menos escolarizados a aprovação caiu de 53% para 38%, mas segue acima da média nacional. O Sudeste concentrou a maior rejeição, com 47%, enquanto o Norte registrou 27% de aprovação.
Comparado a Jair Bolsonaro em abril de 2021, terceiro ano de seu mandato, Lula tem números próximos: Bolsonaro tinha 31% de aprovação e 40% de reprovação, segundo o Datafolha da época.
A diferença está no contexto: enquanto Bolsonaro enfrentava a pandemia, Lula lida com a pressão por resultados econômicos após promessas de campanha. Em 2023, seu primeiro ano, o governo conseguiu manter a aprovação em 38%, mas o declínio começou em 2024 e se acelerou neste ano.
A baixa popularidade pode complicar a agenda legislativa. A reforma tributária, em tramitação desde 2024, depende de partidos do centrão, que ajustam seu apoio conforme o humor do eleitorado.
O governo estuda medidas como a ampliação do Bolsa Família, que hoje beneficia 21 milhões de famílias, e a liberação de crédito para pequenas empresas. A oposição, por sua vez, já mira 2026, usando os números para fortalecer candidaturas contra o PT.
O cenário econômico é um dos principais entraves. A inflação acumulada em 12 meses atingiu 4,8% em fevereiro de 2025, acima da meta de 3,5% do Banco Central, pressionada pela alta de 5,1% na cesta básica em cidades como São Paulo e Recife, segundo o Dieese. O desemprego, estabilizado em 7,9% no fim de 2024 (IBGE), não caiu como esperado, afetando a percepção de melhora entre os mais pobres.
A equipe de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, prepara um pacote de R$ 30 bilhões para estimular o consumo, mas a proposta enfrenta resistência de investidores, preocupados com o déficit fiscal, que fechou 2024 em 8,1% do PIB. O governo aposta que essas medidas, se implementadas até o segundo semestre, podem reverter parte do desgaste. No entanto, a lentidão na execução tem sido um ponto de crítica recorrente.
A política ambiental também pesa. Na COP30, sediada em Belém em 2025, o Brasil reiterou metas de redução de emissões, mas o desmatamento na Amazônia subiu 9% em 2024, segundo o Inpe, gerando críticas internas e externas.
Isso afeta a entrada de investimentos estrangeiros, que recuaram 12% no último trimestre de 2024, conforme o Banco Central. O governo prometeu intensificar a fiscalização, mas os resultados ainda não apareceram.
No Congresso, a base aliada mostra sinais de fragilidade. O MDB, com influência no Senado, indicou que pode rever seu apoio se o governo não apresentar avanços econômicos até o fim do ano.
O PT tenta mobilizar sua militância para contrapor o desgaste, mas a baixa aprovação limita o alcance dessa estratégia. Em paralelo, movimentos sociais como o MST mantêm apoio, mas cobram ações como a reforma agrária, parada desde 2024.
A percepção pública reflete frustração. Dos que reprovam o governo, 58% citaram a economia como motivo principal, enquanto 22% mencionaram corrupção, mesmo sem escândalos recentes, segundo o Datafolha.
O otimismo de 2023, quando o PIB cresceu 2,9%, deu lugar a um sentimento de estagnação. A próxima pesquisa, prevista para junho, será decisiva para medir se o governo consegue mudar essa trajetória.
O futuro depende de decisões rápidas. A ampliação do Bolsa Família e o pacote econômico podem reconquistar parte do apoio perdido, mas exigem aprovação legislativa e execução eficaz.
Analistas apontam que a consistência fiscal e o controle da inflação serão fundamentais. Até lá, o governo Lula enfrenta seu maior teste de resiliência neste terceiro mandato.